segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A arte

Viver é descobrir a realidade no dia a dia.
Ilusão é cobrir a realidade com nosso dia a dia.
Ao primeiro se dá o nome de Dharma.
Ao segundo se lhe chama Maya.
O primeiro existe antes da mente.
O segundo existe por conta da mente.
Viver é, presente.
Iludir-se continuamente terá sido.
No primeiro vive-se, sabe-se, ama-se
No segundo vivo, tenho e morro.
A mente não existe no presente.
O presente não existe na mente.
A liberdade de ser não intersecta com o eu.
A arte é seguir.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

extra...ordinário

De volta do retiro com Ivan na Espanha. São apenas cinco dias, porém cinco não-ordinários dias. Pois estamos acostumados a viver ordinariamente, nossa rotina é por nós transformada em algo ordinário. Viver cinco dias não-ordinários implica reconhecer a redução a que nos propomos no restante 360 deles se considerarmos um ano. O que fazer, viver em retiro? Não, pois a vida nos chama para a ação (nós, aqui, com nossas responsabilidades). A resposta é transformar os outros 360 dias em não-ordinários.
Como?
Para responder vamos tratar do que é o ordinário: em nosso senso comum ordinário remete a algo que não traz novidade, algo conhecido, sem graça. E porquê nos parece este dia a dia sem graça? A graça parece estar sempre no novo, no diferente, ou na expectativa da realização futura de um super desejo. A graça parece fugir do aqui e agora, do presente.
Está aí a resposta para o extraordinário: encontrar a tênue e brilhante linha de vida em que o presente é vivido, sentido e experimentado. Quanto mais respiramos e vivemos o presente mais extraordinárias ficam as simples existências.
Sentar e praticar por cinco dias pode não parecer algo simpático e prazeiroso (e muitas vezes não é...) mas afina o senso do que é real, e dilui a percepção de concretude de um dia a dia repleto de desejos insaciáveis perdido em ilusões egóicas. Sentar e praticar pode parecer extremamente sem graça... mas aí é que está o paradoxo. A graça não pertence ao mundo da personalidade que tem opiniões, mas é característica pura daquilo que sempre existiu, daquilo que, se permitido, compreende como extraordinário o simples ato de ser, existir e saber.


Abraços,
Marcos

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A realidade não é o que você pensa

A realidade não é o que você pensa.
A realidade é o que está continuamente acontecendo agora.
A realidade não é seu pensamento.
O paradoxo é que se você estiver pensando esta será , sim, concretamente, sua realidade.
A realidade não é o sonho bom sobre um futuro desejado.
A realidade não é a tristeza (ou alegria) de um passado ido.
A realidade não existe na sua mente viajante, a não ser que você permaneça embarcando em suas viagens continuamente, navegando em sua própria realidade auto-construída, mutante e variável conforme a meteorologia dos humores, dos contragostos, e dos gostos.
A realidade existe anterior e subjacente a qualquer juízo ou interpretação.
A realidade está logo ali... experimente... entre um pensamento e outro, naquele instante silencioso... em um fluxo atemporal.
A realidade não é o que você pensa, a não ser que você esteja pensando!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ação no mundo

Diz Sesha: o que vale não é a ação que se realiza, mas a compreensão que se tem daquilo que se faz no momento em que se executa a ação. Nós temos a capacidade de realizar, compreender e não nos identificarmos com a ação.
No mundo ocidental, por outro lado, prezamos e medimos a ação pelo valor econômico, pelo gosto, pela utilidade, enfim, pelo resultado alcançado. Nascida do desejo, assim que este se realiza  esta ação logo será seguida por outras e mais outras na interminável voraciadade de identidades egóicas perdidas em teias de desejos e inseguranças. 
Vejamos com mais detalhes a visão Vedanta sobre a ação. Existem quatro naturezas de ação:
1. Omissão: havendo responsabilidade não se executa a ação
2. Ação indentificada: ação executada com apetência de fruto
3. Ação reta: não há identificação com a ação realizada
4. Não ação: se é livre de toda ação 
Nas duas primeiras formas de agir estão as raízes da geração de karma: tanto a omissão quanto a ação identificada tem em sua gênese a figura de um sujeito chamado “eu” que deseja um resultado ou se sente agente controlador da ação (ou da falta dela). Esta figura  que deseja cria um nexo com a ação (ou falta dela) realizada e todas as consequências deste ato esparramadas nos longínquos futuros. 
Entretanto, entre as duas primeiras formas, é preferível o agir à inação, pois quando se age sempre há o benefício do aprendizado com a experiência. Nossas vidas exigem ação, exigem movimento a todo instante. Fugir desta responsabilidade é a forma mais infantil de encarar os caminhos do auto-conhecimento. 
Com o tempo é possível aprender: com a dor, com a experiência, com a reflexão sobre o que se passou, se desenvolve uma crescente compreensão.  Aprendemos sobre os meandros do egoísmo e começa a emergir maior clareza sobre a natureza do agir e as fontes sutis do desejo.
Desta forma começa a ser possível experimentar a terceira forma de ação, chamada  ação reta, aquela que é realizada sem desejo de resultado pela ação efetuada, e sem identificação com a realização da ação (isto é, não há um sujeito que se ache fazedor da ação). Esta forma de ação  pode ser vista como o verdadeiro sacrifício: todo trabalho e toda a ação são convertidos em sagrados pelo simples fato de estarem ocorrendo em nossas vidas; é o instante presente que nos chama a atuar, e este atuar deve ser levado a cabo integralmente. Esta forma de ação gera uma espontânea exaltação.
A busca constante e a prática da ação reta leva ao desenvolvimento do discernimento.
Quando há discernimento há compreensão no instante mesmo em que se dá a ação; de modo instantâneo há compreensão pois “a ação não é diferente da inteligência que a provê”. 
Conforme seu próprio caminho determinar, ao indivíduo que amadurece pode ser inclusive aberta a possibilidade de viver com absoluto discernimento. Com este grau de compreensão, para este iluminado, há inclusive a liberdade da não ação.


Abraços,
Marcos

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Eu quem mesmo?

Dentre todos os paradoxos que a visão filosófica ocidental  provoca ao pesquisarmos a realidade a indagação do eu parece ser a mais facilmente observável, e, assim, mais direto ponto de partida para aqueles que se aventuram no auto-conhecimento.
Quem, afinal, é o sujeito que vive, que age, que presencia a realidade?
Experimente perguntar-se esta questão. Naturalmente a resposta será “eu, oras”. Que  eu? Ué, eu, fulano de tal, com tantos anos, formado nisto e naquilo, filho de fulano e pai de sicrano, etc. Porém, seguindo nas indagações, pergunte-se agora quem é este “eu” e tente responder sem qualquer atributo histórico. Experimente.
O que se passa? Uma estranha sensação de observar-se a si mesmo... tavez algo como um espelho paralelo a outro.
Continue a indagar, honestamente... o que é este eu? Percebe o silêncio que se abre? Esta sensação de algo consciente, que existe, mas  sem denominação?
Isto, que sempre esteve aí, que a si mesmo não se indaga, que é consciente sem pensar, que compreende sem raciocínio, é o que realmente existe.
Isto não tem identidade com o “eu” histórico que só existe quando é pensado.
A falta de história nos traz ao instante presente!
Porém a inérica da falta de presença nos carrega para a história conduzida nos meandros do pensamento, memória agitada e repensada na forma de passado ou na forma de futuro. Quando imersos na memória milhares de dúvidas nos assaltam sobre nossa natureza, o que somos realmente, etc. Este é o playground do “eu”. 
Quando vivos no instante presente não surgem dúvidas, o “eu” não faz parte desta dimensão de existência, muito mais próxima da realidade. Não se trata de uma “evolução do eu”, é simplesmente um estado de consciência mais presente; a idéia da evolução espiritual do “eu” é uma grande armadilha que simplesmente tem o efeito de fortalecer a própria identidade egóica. Não existe meio termo: quando se está presente não há um “eu” que se sinta feliz por estar presente e não estar mais perdido em pensamentos... se há algo desta natureza ocorrendo são simplesmente pensamentos mais bonitinhos.
Nós somos criações momentâneas que existem enquanto pensamos sobre elas; criaturas cujo cordão umbelical é construído a cada fluxo de pensamento que nos sustenta,  nos ilude fazendo crer que somos contínuos no tempo histórico. Nos instantes em que estamos presentes este cordão é cortado instantaneamente, estas criações não existem. Para comprovar isto basta refazer o exercício proposto acima. É simples. 
A indagação do eu pode abrir possibilidades de compreensão profundas se buscamos praticar de forma honesta  e curiosa.


(Para os interessados na indagação do eu por favor vejam ao lado o link para o site que contém ensinamentos de Ramana Maharshi)



Abraços,
Marcos

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Divulgação Vedanta Advaita

Este ano não contaremos com a presença de Ivan Oliveiros (Sesha) para compartilhar seus ensinamentos no Brasil. Para uma viagem deste porte há que se ter uma massa crítica de pessoas interessadas maior do que conseguimos arrebanhar desta vez. Assim compartilho com vocês (abaixo) a agenda publicada recentemente com os trabalhos que serão realizados na espanha neste segundo semestre.
Seguindo pela linha de compartilhamento notem que na coluna da direita aqui do blog há uma área de apresentação contendo três páginas com o título “Palestras Gratuitas e Oficinas”. É uma forma de tornar acessível a mais pessoas o trabalho que tenho feito de  divulgação da filosofia Vedanta Advaita no Brasil. As principais linhas de palestras são:
-  A prática meditativa: um guia de viagem
-  O caminho da ação: meditação como prática diária
-  O líder consciente: desafios para uma liderança real
-  A obra sem artista: a arte como meditação 
-  A pedagogia da descoberta: meditação e consciência aplicadas à educação
Caso tenham indicações ou interesse por favor me avisem.
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Queremos comunicarte que Sesha estará en breve en España impartiendo diferentes seminarios y conferencias. Aquí tienes el programa por si te apetece acudir a cualquiera de los eventos organizados (haz clic en los vínculos para acceder a más información):  
Seminario sobre Los Campos de Cognición en Valencia los días 23, 24 y 25 de Septiembre. Éste será el último Seminario sobre "los Campos de Cognición". Sesha disertará sobre cómo convertir un campo dual en uno No-dual y finalizará reflexionando sobre la Libertad Final.
Conferencia en Girona el jueves 29 de Septiembre en Girona titulada "Vedanta Advaita, filosofía oriental aplicada a la vida occidental".
Seminario de Meditación en Olot (Girona) los días 30 de Septiembre, 1 y 2 de Octubre. Sesha platicará sobre la teoría y práctica de la Meditación según los lineamientos del Vedanta advaita.
Conferencia en Olot (Girona) el Sábado día 1 de Octubre titulada "Modelos metafísicos educativos".
Seminario de Meditación en Bilbao los días 7, 8 y 9 de Octubre. Sesha platicará sobre la teoría y práctica de la Meditación según los lineamientos del Vedanta advaita.
Internado de Meditación en Barcelona de 5 días  . Del 12 al 16 de Octubre. Para personas que practican meditación en su vida cotidiana.
En la web www.vedantaadvaita.com dispones de estas y otras informaciones todas relacionadas con Sesha. Esperamos que disfrutes con todos los contenidos que están a tú disposición.
Abraços,
Marcos

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A grande verdade sobre meditação


Existe um universo de livros e textos sobre esta palavra “meditação”. A grande maioria não passa de uma coletânea de pensamentos adocicados, como se a prática da atenção plena interna (descrição do que normalmente se chama de meditação) fosse um passeio a uma Disneilândia em que algodões-doces do materialismo espiritual estivessem à venda.
Pois deveríamos todos ler muito menos, e praticar. Basta uma verdade para várias vidas de prática. Eis então esta simples verdade para as nossas próximas vidas de prática. No momento em que estiver percorrendo a prática de atenção interna (“meditando”), saiba simplesmente isso: quando você se der conta de que está pensando, está então no presente.
Ao iniciarmos a prática de atenção interna inevitavelmente pensamos - pois a inércia do hábito de pensar no dia a dia naturalmente nos conduz para permanecermos no mesmo estado em que vivemos, ou seja, pensando.
Enquanto pensamos, não há nada a fazer, pois estamos perdidos no pensamento. Assim como quando estamos dormindo não há nada a fazer até despertarmos. Trazer pensamentos de esforço e desejo, de vazio e silêncio, de nada adianta, posto que são apenas mais pensamentos. Entretanto, pela graça divina, há  instantes em que algo se dá conta de que está pensando. Este é o momento chave. Neste momento estamos presentes. Permanecer aí, naquilo que observa e está presente, é a chave e a única oportunidade da prática.
As grandes divindidades, as visões do nirvana, os devas... são todos muito simpáticos, mas não fazem sentido para nós que permanecemos viajando em nossas maioneses ininterruptamente, e de repente desejamos que com alguns minutinhos de prática o mundo espiritual se abra como se fosse algo separado, e que ao mesmo tempo siga os mesmos cânones de nosso mundo material egóico.
Saber que quando nos damos conta de que estamos pensando estamos presentes. Isto, apenas, é suficiente para os próximos dez anos de prática. O resto, como diz Sesha, é perfumaria.


Abraços,
Marcos

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Limiar da intuição

Nós estamos acostumados a estabelecer uma lógica, um raciocínio associativo que determine a razão para decisões que por vezes haviam aparecido como um sentido de saber antes do entender. Neste caso decisão pode ser definida como ação, julgamento ou teórica certeza acerca de uma situação qualquer.
Todos nós já vivemos instantes intensos de “saber algo”, simplesmente saber, sem construção ou análise prévia. Este saber é a intuição, uma forma superior de inteligência que reside em um nível não linear, que não opera através dos canais da mente associativa (Manas) em sua agitação habitual.
Se prestarmos bastante atenção veremos que a sensação do saber puro e simples acontece, e aí, neste mesmo instante, já reside simultaneamente a total compreensão. Já se sabe. O que ocorre em seguida - de forma muito, muito veloz - é que iniciamos o processo de pensar sobre esta sensação de saber. É como se necessitássemos de um procedimento linear e aparentemente lógico que fosse construído por um “eu” que se tornaria então proprietário de uma justificativa “racional” para a decisão.
O saber ocorreu naquele instante claro de intuição - como quando as “fichas caem”, por exemplo. Neste instante não existe a figura de um “eu” que compreenda, existe apenas a compreensão em si mesma, um saber, e um saber que se sabe. Em termos de componentes do órgão interno chamado mente (Antahkarana) Manas está quieto, e brilha Buddhi. Em relação ao estado de atenção há forte presença.
Em seguida aparece um “eu” que inicia o processo de agitação mental e procura entender através de um procedimento lógico. Isto naturalmente restringe aquilo que era “saber” puro e livre em um conhecimento confinado às fronteiras psicológicas de uma identidade egóica com sua história, hábitos e tendências.
Aprender e experimentar a postura de atenção que nos possibilita estarmos mais porosos ao instante presente, de modo a esticar estes segundos de presença na substância de compreensão pura é uma prática vital em nosso caminhar.
Abraços,
Marcos

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Silêncio interior

A prática interior é - talvez para a imensa maioria de nós - o único pilar que consiga representar a sensação de certeza profunda sobre algo na vida. Segundo dizem os grandes sábios o que existe em verdade, é Sat-Cit-Ananda. 
Sat (existência, ser), Cit (consciência, sabedoria e conhecimento) e Ananda (bem aventurança, amor pleno como agente de integração) existem em uma dimensão que é subjacente, que dá base à própria existência.
Como podemos ter contato com aspectos - ainda que tênues - desta realidade última?
Imersos em nossos hábitos mentais de comportamento, que puxam a cada instante de percepção infindáveis elementos comparativos de memória, é muito difícil encontrar um momento de certeza. Estes hábitos, continuamente reforçados, acabam por trazer mais e mais diferenciação, isto é, momentos em que não estamos atentos ao presente que se sucede, mas sim envoltos pelas familiares vozes mil das cadeias de pensamento e memória, julgamento e distância. Conforme o tempo passa estes hábitos se tornam mais fortes, pois cremos com toda a convicção que somos eles.
O único elemento capaz de desfazer esta trama é a atenção.  A atenção aparece por trás, antes dos próprios hábitos mentais. Ao observarmos conscientemente estes hábitos eles se tornam mais frágeis, menos senhores de nós mesmos. Ao longo de muitos anos de uma vida a prática enfraquece os hábitos e dá oportunidade para um viver consciente. Ao longo de alguns minutos de uma prática de atenção interior (meditação) a atenção aniquila imediatamente o hábito que surge na forma de um pensamento ou emoção, permitindo uma percepção daquilo que existe antes do jogo de cenas de um teatro de fantoches.
A prática do silêncio é a porta para a chance de se resvalar na certeza da existência, da consciência, da bem-aventurança.
Quieto, com o corpo e os sentidos acalmados, atento ao que se passa internamente. Atento e curioso, investigando o que afinal é isso que somos, como se expressa. Atento ao compreender que existe antes de qualquer pensamento, imerso no vazio que é pleno de movimento e vida. É possível se perceber como se flexibilizam e aos poucos se mostram ilusórias as cadeias de restrições que nos fazem imaginar que o que existe é o corpo material, este “eu”,  ou mesmo que somos “algo” independente. Atentos, quietos e profundamente mergulhados em nosso próprio campo de existência, as certezas de uma mente pensante rapidamente se mostram duvidosas, e por fim falsas, ilusórias. Aquilo que compreende, como um espaço novo que se abre em nosso próprio espaço interno, se revela como tendo estado sempre ali. A compreensão completa de não ser algo, e ainda assim a completa certeza de ser. 
Este perfume que resta de uma prática interior não pode ser expresso em conceitos compreensíveis pela mente linear, mas ele permanece vivo como uma certeza mais profunda - ainda que em um campo sutil - da trama de fluxos de existência, consciência e amor que nos compõe.
Abraços,
Marcos

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Quântica


Bom, já escrevi demais explicitamente sobre Vedanta Advaita, não dualidade. Vamos a uma pitada do que a física quântica pode nos trazer de reflexão.
Na mecânica quântica, entre outros absurdos ao bom-senso, se estipula que a equação que define um algo qualquer se chama “função de onda”: aquilo que provê uma descrição completa do sistema físico ao qual está associado. Esta função de onda tem componentes probabilísticos, de modo que a descrição mais exata de algo é no melhor dos casos uma possibilidade. Por exemplo, na física clássica é possível determinar a velocidade e a posição de uma partícula, enquanto na física quântica não. O fato de inserirmos um observador no sistema altera as características do próprio sistema; para colocar livremente: o observador causa um colapso na função de onda probabilística de modo que se observa apenas uma das formas possíveis.
Uma boa pergunta é: o que havia “realmente” antes de haver um observador que perturbasse o sistema?
Michio Kaku, perto do final de seu livro “Hiperespaço”, diz: “...com a teoria das dez dimensões (relacionada à teoria das cordas) o conceito de uma função de onda para o universo inteiro torna-se relevante... a própria função de onda cósmica, que descreve o universo inteiro, não vive em nenhum estado definido, sendo um compósito de todos os universos possíveis.”
Diz Brian Greene, em seu livro “O universo elegante”: “de acordo com a teoria das cordas o universo é composto por cordas minúsculas cujos padrões vibratórios são a origem das massas, cargas e forças das partículas; a teoria também requer dimensões adicionais (cujas formas) determinam estes padrões vibratórios”. 
Assim o que vemos nas dimensões habituais tem causa em outras dimensões não percebidas habitualmente.
Normalmente se associa a física quântica apenas a dimensões muito pequenas. No artigo da Scientific American de julho deste ano  “A vida em um mundo quântico” Vlatko Vedral comenta como efeitos quânticos tem sido observados em um crescente número de sistemas macroscópicos.
Por exemplo, um outro absurdo interessante da física quântica é o conceito de “emaranhamento quântico”, que basicamente estabelece que este liga partículas individuais a um todo indivisível: mesmo quando partículas emaranhadas estão (muito) distantes umas das outras elas ainda se comportam como uma entidade única. O emaranhamento interconecta sistemas quânticos sem referência a tempo ou espaço. Vlatko relata fenômenos de emaranhamento já em aglomerados de partículas, como sais.
E declara, ao final: “as implicações de objetos macroscópicos, como nós, existindo em um limbo quântico são tão alucinantes que nós, físicos, ainda estamos em um estado de emaranhamento de assombro e confusão”.
A questão é que a filosofia ocidental não acompanhou as imensas discussões que a física quântica colocou na vitrine. O Vedanta Advaita traz proposições  que embasam soluções elegantes para estes dilemas. Mais sobre o tema em nossos encontros semanais (e em breve no novo livro de Sesha sobre o assunto).


Abraços,
Marcos