quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Budo, Aikido, Consciência e Liberdade

Outro dia folheava um livro sobre Budo lá na Shinwa (academia de Aikido e sede da Fepai, onde treino toda semana) e me deparei com o seguinte trecho:
“...a consciência ordinária obstrui o movimento físico. Não importa o tipo de movimento, a prática constante é necessária para que nos tornemos verdadeiramente habilidosos. (A prática) deve se tornar uma segunda natureza de modo a dirimir as obstruções originadas em nossas mentes. Porém isto finalmente fará com que a consciência (ordinária) se torne independente do corpo físico. Como podemos mover o corpo conscientemente sem permitir que a consciência (ordinária) obstrua o movimento? Esta é a essência do Budo.”

(Yoro Taheshi, Prof. Emeritus, Tokyo University)

 
Bonito não? Excelente quadro da filosofia maior do Aikido, por exemplo.

Parece paradoxal e é. Para mim, que pratico o Aikido e a meditação Vedanta Advaita há dez anos, este é um paradoxo delicioso e absolutamente real. Talvez um ajuste de linguagem sob a ótica Vedanta ajude a compreensão do texto.


Podemos traduzir a consciência ordinária por mente, mais especificamente um de seus vários constituintes, o Ahamkara. Este é o “órgão” da mente responsável pela sensação de posse de um eu; no Ahamkara reside a ilusão de uma personalidade (eu) que acredita atuar de modo independente e acredita ser merecedora dos frutos desta ações. Eis aí o princípio causador da “obstrução” ao movimento físico no exemplo acima.


Já o movimento físico em si mesmo, ao ser uma “segunda natureza” é o movimento natural que ocorre por si mesmo. Por que dizemos que ocorre por si mesmo? Não é apenas um modo de dizer. O corpo do aikidoísta e de seu parceiro, assim como o dojo, e todos os presentes, conformam um campo, um sistema, que – como qualquer outro no universo – existe porque há Consciência. Esta é a Consciência com “C” maiúsculo, aquilo que dá origem a todo o resto, mas não é originada por nada. Aquilo que é a raiz de tudo o que existe, mas em nada existente possui raízes. Qualquer campo é Consciente, independentemente da presença de uma consciência ordinária (ahamkara), isto é, não é porque um eu está percebendo e se apropriando em sua memória de uma situação (um campo de cognição) que este campo existe... o campo já existe, e é a base sobre a qual o “eu” se sustenta para ilusoriamente se achar consciente e diferente (individualizado) do campo mesmo.


Assim, o próprio campo gera e conduz os movimentos físicos!


A presença do Ahamkara obstrui, polui, contamina este movimento natural. Como percebemos se isto está ocorrendo? É fácil, basta percebermos se estamos pensando sobre o que ocorre. Se pensamos não estamos presentes, quem está presente é o “eu”. Então como conseguir com que estes movimentos ocorram naturalmente? A única chave é a Presença. Só no presente é possível aquietar a mente, ativar os sentidos, e começar a perceber a conexão entre todos os constituintes do campo, e daí permitir que o movimento ocorra naturalmente. Deste modo de fato a consciência ordinária (ahamkara) deixa de estar presente, e os movimentos ocorrem por conta da Consciência do próprio campo existente naquele momento presente.


O Budo, para mim, é isto. E o treino físico, assim como os movimentos aqui explicados, é apenas um exemplo do que de fato pode ocorrer em todas as nossas ações, em nosso trabalho, em casa, etc. As horas de treino no Budo são um laboratório e uma arena de aprendizagem para todos os outros segundos da vida, pois estamos continuamente em ação, e a cada instante o campo / sistema em que estamos mergulhados subsiste na Consciência, e a nós nos cabe simplesmente fluir com o que nos é apresentado de modo natural, aceitando plenamente a assustadora liberdade do Presente.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

video Sesha

Olá amigos,
tantas vezes escrevi sobre a limitação da visão ocidental em relação à realidade e à Consciência. Agora finalmente os vídeos de Sesha (http://www.vedantaadvaita.com) estão mais fáceis de abrir, sem ter que copiá-los, e coloquei aqui no blog (bem no alto da página) um destes vídeos como aperitivo, é só apertar play. É justamente a gravação de uma parte de um seminário do Ivan sobre o Bhagavad Gita, e neste trecho ele discorre sobre a pobreza e limitações do modelo cognitivo ocidental.
Bom proveito!