quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tendências

A vida que vivemos é como um colar de inúmeras pérolas em que cada pérola é o instante que se apresenta como realidade. Há algo fundamental para se peceber e reconhecer: cada um dos momentos e acontecimentos é perfeito na medida em que existe justamente para que possamos vivê-lo. Eis aí uma diferença fundamental entre a percepção de realidade habitual ocidental e o Vedanta: não é o caso de estarmos imersos em uma imensa roda da história, um mundo dito real no qual somos inseridos, como se fosse possível observá-lo enquanto coisa real. É, sim, o caso de considerarmos que todas as experiências vividas por um indivíduo foram forjadas especificamente para que este as vivesse. O universo inteiro que o indivívuo percebe foi forjado de tal modo que ele pudesse viver as experiências que vive. E estas experiências, que incluem os atributos de personalidade, a família, o ambiente, o país, o contexto, são condicionadas pelas tendências (samskaras) trazidas no conjunto de seus ciclos anteriores pelo indivíduo. Ao final a personalidade não é mais que um subconjunto de todas as tendências sutis geradas anteriormente; estas tendências são corporificadas e tornadas aparentes no mundo dito real.
Como nascem estas tendências? Uma determinada forma de pensar, quando repetidamente acionada, começa a gerar reflexos em comportamentos e ações. O reforço constante desta forma de pensamento gera (ou reforça), ao longo da vida, hábitos de pensamento e reconhecimento. Nos habituamos a julgar, interpretar, interagir com o mundo segundo determinados padrões. A não-consciência destes hábitos os reforça de modo brutal - pois é através destes hábitos que nos sentimos agentes principais de nossas ações, através destes hábitos buscamos sempre o fruto das ações -  gerando as tendências. 
A morte leva o corpo físico e a forma pensamento chamada de personalidade, mas não as tendências geradas. Estas tendências são então reagrupadas ao conjunto total de tendências que já haviam sido geradas por esta mesma substância essencial de vida, de modo que no próximo ciclo um novo sub-conjunto de tendências será determinado para formatar o molde do novo colar de pérolas, as novas experiências que serão vividas, forjadas especificamente para aquela essência. 
Há uma única forma de não se gerar novas tendências: a presença, a atenção ao que está se sucedendo, a ação natural. Esta é também a única real liberdade.


abraços
marcos

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Wandering minds are unhappy minds

Pessoal, duas novidades.
Coloquei um novo vídeo (aqui em cima) muito bom do Ivan sobre a falsa identificação. Sobre isso, alguns tesouros (Astavakra Samhita): “Know that which has form to be unreal and the formless to be permanent... the world appears from the ignorance of the self and disappears with the knowledge of the self”.
Hoje recebi um e-mail (obrigado Capocchi!) com o link para um artigo muito divertido e instrutivo até para o mais cabeça-dura (segue link: http://tiny.cc/f8hds ). Trata-se de artigo da Scientific American relatando experiemento recém realizado por dois psicólogos para estudar a natureza da felicidade. Criaram um aplicativo para o Iphone que tocava aleatoriamente durante o dia e perguntava se a pessoa estava feliz, e se estava concentrada no que fazia ou pensando em outra coisa. O resultado (surpresa!) é que as pessoas ficam mais felizes quando concentradas no que fazem, e não quando fazem uma coisa e pensam em outra (ainda que a outra seja um ‘pensamento feliz’).
No artigo ainda há uma estimativa de que em mais de 50% das vezes as pessoas não estão naquilo que fazem; dadas as condições do experimento e minha própria experiência eu diria que este número é mais próximo de 95%.
O único “erro” do artigo é concluir que devemos “pensar no que estamos fazendo”; não! Devemos estar presentes no que fazemos, o que exclui o pensar sobre o que fazemos. Simplesmente fazer, estar, ser, e não pensar sobre fazer, pensar sobre estar, pensar sobre ser. A nossa mente ocidental não se cansa de pregar o pensamento...
Agora já tenho um artigo científico para convencer os céticos, ou pelo menos criar uma dúvida pertinente. Como se dois psicólogos fossem mais relevantes que cinco mil anos de filosofia e prática (rsrsrs). De todo modo é mais uma porta de entrada do mortal vírus advaita.


abraços
marcos