sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

2010

A todos os buscadores, a todos aqueles que seguem inquietos e assim pesquisam a realidade, a todos que não se conformam com o conforto do medo e a indulgência da ignorância, a todos que nutrem com coragem uma esperança de Ser, que trilham a vida com audácia e respeito, determinação e humildade, a todos estes desejo mais do mesmo, pois vocês já tem o que é necessário.

Para todos os outros desejo uma centelha de despertar.

abraços

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Passa, ave, passa


Escreveu Fernando Pessoa (Alberto Caiero):
Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!”

A mim me encanta especialmente “lembrar é não ver”, Fernando Pessoa namorou intimamente com a não-dualidade, existem muitos outros poemas belos que exaltam o presente. Lembrar é não ver posto que o véu do pensamento colocado em marcha pela poeira da agitação da memória impede a visão da realidade.
No Vedanta Advaita uma das primeiras letras do abecedário é conhecida por “nome e forma”; quando interagindo com a realidade nós recuamos a atenção para a memória na busca de uma definição para o que vemos, isto é um sinal evidente de que não estamos vivendo o instante presente. Façam um exercício simples: escolham um objeto qualquer à sua frente agora, e vejam o que vem imediatamente à mente: a definição do mesmo. Por exemplo, se há uma caneta à sua frente nosso hábito nos leva a apenas resvalar a atenção sobre a mesma, quantidade de atenção suficiente apenas para nos levar à memória na busca da identificação do conceito já pré-estabelecido de “caneta”. E daí em diante já não nos interessa observar a caneta. Nosso movimento de direcionamento da atenção saiu do presente (a caneta) e se fixou no passado (na memória que guarda o conceito do objeto genérico caneta). Façam agora um outro exercício: observe detidamente o mesmo objeto, mas procure não determinar o nome do objeto. Esforcem-se para que a atenção permaneça no objeto, pra que ela não se volte para a memória. Em pouquíssimo tempo, se vocês conseguirem, perceberão que o objeto ganha vida, e parece que há menor distância percebida entre o objeto e vocês.
A realidade não pode ser conceitualizada ou percebida através da memória... nunca. Só existe realidade no presente.
Para fechar uma linda frase de Nisargadatta: “ … a pura atenção – livre de memórias e expectativas – é o estado da mente no qual a descoberta pode acontecer. Afinal, liberação não é mais do que a liberdade de descobrir.”
Abraços