quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tendências

A vida que vivemos é como um colar de inúmeras pérolas em que cada pérola é o instante que se apresenta como realidade. Há algo fundamental para se peceber e reconhecer: cada um dos momentos e acontecimentos é perfeito na medida em que existe justamente para que possamos vivê-lo. Eis aí uma diferença fundamental entre a percepção de realidade habitual ocidental e o Vedanta: não é o caso de estarmos imersos em uma imensa roda da história, um mundo dito real no qual somos inseridos, como se fosse possível observá-lo enquanto coisa real. É, sim, o caso de considerarmos que todas as experiências vividas por um indivíduo foram forjadas especificamente para que este as vivesse. O universo inteiro que o indivívuo percebe foi forjado de tal modo que ele pudesse viver as experiências que vive. E estas experiências, que incluem os atributos de personalidade, a família, o ambiente, o país, o contexto, são condicionadas pelas tendências (samskaras) trazidas no conjunto de seus ciclos anteriores pelo indivíduo. Ao final a personalidade não é mais que um subconjunto de todas as tendências sutis geradas anteriormente; estas tendências são corporificadas e tornadas aparentes no mundo dito real.
Como nascem estas tendências? Uma determinada forma de pensar, quando repetidamente acionada, começa a gerar reflexos em comportamentos e ações. O reforço constante desta forma de pensamento gera (ou reforça), ao longo da vida, hábitos de pensamento e reconhecimento. Nos habituamos a julgar, interpretar, interagir com o mundo segundo determinados padrões. A não-consciência destes hábitos os reforça de modo brutal - pois é através destes hábitos que nos sentimos agentes principais de nossas ações, através destes hábitos buscamos sempre o fruto das ações -  gerando as tendências. 
A morte leva o corpo físico e a forma pensamento chamada de personalidade, mas não as tendências geradas. Estas tendências são então reagrupadas ao conjunto total de tendências que já haviam sido geradas por esta mesma substância essencial de vida, de modo que no próximo ciclo um novo sub-conjunto de tendências será determinado para formatar o molde do novo colar de pérolas, as novas experiências que serão vividas, forjadas especificamente para aquela essência. 
Há uma única forma de não se gerar novas tendências: a presença, a atenção ao que está se sucedendo, a ação natural. Esta é também a única real liberdade.


abraços
marcos

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Wandering minds are unhappy minds

Pessoal, duas novidades.
Coloquei um novo vídeo (aqui em cima) muito bom do Ivan sobre a falsa identificação. Sobre isso, alguns tesouros (Astavakra Samhita): “Know that which has form to be unreal and the formless to be permanent... the world appears from the ignorance of the self and disappears with the knowledge of the self”.
Hoje recebi um e-mail (obrigado Capocchi!) com o link para um artigo muito divertido e instrutivo até para o mais cabeça-dura (segue link: http://tiny.cc/f8hds ). Trata-se de artigo da Scientific American relatando experiemento recém realizado por dois psicólogos para estudar a natureza da felicidade. Criaram um aplicativo para o Iphone que tocava aleatoriamente durante o dia e perguntava se a pessoa estava feliz, e se estava concentrada no que fazia ou pensando em outra coisa. O resultado (surpresa!) é que as pessoas ficam mais felizes quando concentradas no que fazem, e não quando fazem uma coisa e pensam em outra (ainda que a outra seja um ‘pensamento feliz’).
No artigo ainda há uma estimativa de que em mais de 50% das vezes as pessoas não estão naquilo que fazem; dadas as condições do experimento e minha própria experiência eu diria que este número é mais próximo de 95%.
O único “erro” do artigo é concluir que devemos “pensar no que estamos fazendo”; não! Devemos estar presentes no que fazemos, o que exclui o pensar sobre o que fazemos. Simplesmente fazer, estar, ser, e não pensar sobre fazer, pensar sobre estar, pensar sobre ser. A nossa mente ocidental não se cansa de pregar o pensamento...
Agora já tenho um artigo científico para convencer os céticos, ou pelo menos criar uma dúvida pertinente. Como se dois psicólogos fossem mais relevantes que cinco mil anos de filosofia e prática (rsrsrs). De todo modo é mais uma porta de entrada do mortal vírus advaita.


abraços
marcos

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A única escolha

Sempre falamos da pedra fundamental do auro-conhecimento que é o presente. Volta e meia aparece a pergunta: mas como vou saber se de fato estou presente ou não? A resposta é bem simples: se você está pensando sobre seu grau de presença, se você está julgando de alguma maneira, se você se pergunta se está presente, então você não está presente! 
Quando há presença não há um “eu” psico-histórico que viva o instante de presença. É simples e paradoxal. Se há um instante de presença ele normalmente só é detectado pela figura da identidade egóica (eu) depois; é quando a presença morre que o eu pode utilizar a propriedade da memória para buscar o “cheiro” da sensação e se dizer ter estado presente.
Entretanto, para nós, ainda ignorantes, a compreensão de que houve um instante de presença é bastante  importante, pois nos dá pistas e sinais do que não é um estado de  presença, e assim permite que, a cada momento de não-presença este possa ser, cada vez mais rapidamente, reconhecido. 
Uma vez que você reconhece que está em um estado de ausência (pensando, divagando), isto é, que não está vivendo aquilo que a realidade oferece naquele mesmo instante, você tem apenas uma alternativa: optar por permanecer ausente, ou voltar ao presente. Esta é a escolha que vai permear todos os momentos da vida de quem perdeu a inocência sobre a realidade de se estar presente. Uma vez que se tenha dado conta do que é o estar presente, ainda que em um grau bastante simples, a ausência (não-presença) cobra um preço cada vez maior.
Não há nenhuma outra escolha de tamanha magnitude na vida como essa uma vez que ela se faça aparente. Este é o “ser ou não ser”. 
Quem estiver com frio na barriga ante à possibilidade de perder a inocência pode aparecer no grupo de meditação das 4af’s para experimentar um pouco mais.  

abraços
marcos

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Abstinência

No encontro da semana passada do grupo de meditação conversamos sobre o cultivo de um primeiro nível de discernimento em nosso dia a dia. 
A colcha de retalhos (também conhecidos por elementais, hábitos, ec.) que é nossa personalidade tem alguns poucos mecanismos básicos de negociação para garantir sua sobrevivência segundo as tendências (samskaras) trazidas no pacote deste ciclo de vida. Os primeiros passos no auto-conhecimento são direcionados a conhecer, ou reconhecer, estes mecanismos. Esta etapa não é muito complexa, e sempre vem acompanhada de assombro, surpresa, dor, emoção, etc. Porém a descoberta é apenas o começo. Muitas vezes nos apaixonamos ainda mais por estes mecanismos, nos dedicamos a estudá-los em detalhes , em toda a sua profundidade, e assim garantimos que nunca nos preocuparemos a encontrar a saída do labirinto, apenas nos deixamos passear mais e mais dentro dele. A questão não é descobrir causas ou detalhes destes mecanismos-raiz, mas sim reconhecer sua existência, e a partir daí aprender a desinflá-los, dia após dia.
Estes mecanismos só existem, naturalmente, como forma de expressão da identidade “eu” no mundo; enquanto forma, só existem como pensamentos. Assim, uma presença intensa no cotidiano naturalmente murcha a bexiga destes mecanismos. A reação natural e espontânea ante aos acontecimentos trazidos pelo presente deixará um espaço potencial cada vez menor para se enfiem as unhas compridas da personalidade no corpo do presente.
Mas como fazer no nosso dia a dia? Uma boa pista é buscar estar consciente de cada decisão que tomamos, em vez de nos deixarmos levar por um maremoto de possibilidades construídas mentalmente, que pouco tem a ver com a realidade. É uma primeira aproximação ao que o Ivan chama de estado de não-dúvida. Por exemplo: você precisa ir à academia fazer ginástica; perceba o que é mais inteligente neste momento e resolva. Não é uma questão de dever ou moral... ir ou não ir à academia não é o ponto. O ponto é o processo: se você está metido em uma dezena de razões para não ir, ou para ir, já estamos mal...
Uma outra pista é aprender a reconhecer cada vez mais prontamente as negociatas internas que fazemos para “ganhar” algo a que nos apegamos muito, geralmente de fundo emocional. Por exemplo: já que tive um dia muito difícil eu mereço comer esta barra de chocolate! Tudo bem, não precisa ser comida, podem ser duas horas de internet, ou um copo de uísque, ou..., bom cada um sabe bem de suas próprias negociações... especialmente nas relações. Se há negociação há um “eu” buscando justificar. Um modo rápido, mas não tranquilo, de perceber estes nossos apegos e justificativas é a prática da abstinência (por algum período de tempo, pelo menos) daquilo que apreciamos tanto. Observando as reações que surgem, a intensidade emocional, o arrazoado inteligente para burlar a própria proposta de abstinência, podemos ter uma pista do tamanho do poder que esta colcha de retalhos exerce, a potência com que estes mecanismos-raiz da personalidade nos subjugam, ainda que através de sutis e inteligentes justificativas.
Ao final, a prática da meditação é a abstinência última, a abstinência do próprio eu.

abraços
marcos

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Ramana, e quem sou eu afinal?

Ramana Maharshi propunha aos que o procuravam um método aparantemente muito simples de prática na busca do auto-conhecimento, chamado de método da auto-inquirição. Este método, basicamente, se resumia na prática de atenção interna através de uma pergunta raiz: quem sou eu?
No mundo interno existem várias formas de seguir o perfume do presente, e cabe a cada um encontrar aquela mais apropriada ao seu próprio sistema mental e nervoso. Uma das formas é esta proposta por Ramana, que, no entanto, é muitas vezes mal interpretada por nós.
Existem basicamente duas maneiras de se fazer esta pergunta a si mesmo. Na primeira a pergunta é feita de forma, digamos, leviana, corriqueira, como quem pergunta sobre o tempo. Feita desta maneira isto será simplesmente o início de um processo interminável de pensamentos enadeados. Quem sou eu? eu mesmo, ora... e quem sou este eu mesmo? eu... e assim vai ladeira abaixo, uma diversão para a personalidade, uma distração total do que pode ser o presente neste momento. Nesta altura estamos totalmente imersos em pensamentos sobre o tema, o que, como sabemos, não tem validade por ser um estado não associado ao presente.
A segunda forma, é aquela em que toda a atenção, com um grau de curiosidade absoluta,  está servindo como mola propulsora da pergunta ‘quem sou eu?’; ao formulá-la há uma genuína intenção de esperar uma resposta. É o mesmo tipo de foco de atenção que existe quando você aposta na mega sena, e ouve as dezenas sorteadas; imagine que você já acertou cinco, e a sexta vai ser anunciada... onde está sua atenção? divagando dobre o fim de semana, ou sobre a mágoa com a irmã, ou sobre ... claro que não, a atenção está 100% voltada ao instante presente, aguardando a sexta dezena! É este grau de atenção que é necessário para se esperar a resposta de uma pergunta do quilate de ‘quem sou eu’.  Surge então, no momento em que a questão se propõe, um estado de surpresa com a própria questão colocada. A mente linear, sem encontrar resposta dialética (por comparação com conteúdos prévios armazenados na memória) se vê por um instante paralisada. Manas (a atividade mental) estaciona subitamente, como um máquina engripada por uma corrente quebrada. Permanecendo aí, com atenção  firmemente postada no observador que percebe o vazio de respostas, pode nos ser oferecida a probabildiade de dilatação do vazio e do silêncio. Com a mente quieta, por pouquíssimos instantes, é possível que budhi se faça aparente. Este é o princípio do processo de silêncio, quiçá da meditação. 


abraços
marcos

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

467.200 horas

Precisamos aprender a ouvir o som da atenção. Precisamos aprender a sentir a consistência firme de um estado de presença. A atenção é uma propriedade da Consciência, a propriedade que permite que tenhamos capacidade de cognição como indivíduos.
Sem atenção não perceberíamos coisa alguma, o fato de percebermos algo denota a existência da atenção. De verdade nunca estamos desatentos, pois a atenção sempre está; pode estar direcionada para algo que não seja o que ocorre no instante presente, e estaríamos desatentos ao que ocorre naquele instante, mas ainda assim atentos a alguma outra corrente de informações, como nossos devaneios, por exemplo.
A atenção está presente continuamente, segundo após segundo, um jorro incessante; desde o nascimento até a morte, a questão é:  o que fazemos com ela? para onde direcionamos este jorro ao longo de nossas 467.200 horas de vida (para uma vida de 80 anos, em vigília de 16 horas por dia)? Supondo que nos primeiros seis anos de vida estávamos mais presentes, e que talvez, por misericórdia ou sorte, em 5 minutos a cada hora estejamos realmente presentes (sendo bem bondoso na estimativa),  chegamos à conclusão que desperdiçamos 68 anos de vida em vigília em nossos devaneios... aleluia!
Imaginem a potência de 68 anos de hábitos de pensamento continuamente pisados e repisados! Assim se criam as tendências de nexo entre os ciclos de vida, assim se criam as condições kármicas, assim se perpetua a roda da ignorância.
Considerando que todos nós que lemos este texto ainda temos disponibilidade de atenção, há que se ter o senso de urgência de se perguntar o que realmente desejamos fazer com este fluxo incessante de vida e presença representado pela atenção.
Há que se aprender a escutar o som da atenção nas práticas de meditação interna, notar suas nuances, sua potência, sua volatilidade; há que se investigar a atenção trazendo-a para si mesma. Esta prática exercita e fortalece a capacidade de se perceber perdido em devaneios no dia a dia. Há que se estar pronto para, ao primeiro sinal de distração, trazer a atenção de volta para a realidade que se apresenta, uma e outra vez. A realidade, em seus múltiplos objetos que se sucedem no instante presente, puxa e demanda nossa atenção, temos apenas que deixar que o fluxo natural siga seu rumo, isto é, quando em ação no dia a dia a realidade é prioritária, não nossos devaneios. A atenção é demandada pelo presente que acontece, pelo mundo. A mente linear é que, ao gerar a ilusão da diferença, da individualidade criadora, puxa a atenção de volta para si mesma, para os devaneios eternos que dão a sensação de permanência a um “eu” impermanente. Há que se liberar o navegar no fluxo de atenção natural para buscar a cor real e não sua interpretação; o som que se ouve e não sua memória; o sabor do instante e não sua implicação futura. 


abraços
marcos

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Nosso leque de dons

No encontro do grupo de meditação de 4af na semana passada falávamos sobre atividades que nos inclinam mais naturalmente à presença, como identificá-las e fazer delas um trampolim para a presença mais frequente em nosso dia a dia.
Todos temos dons naturais - poucos, normalmente, mas temos. Durante a infância estes dons transparecem, se fazem evidentes com bastante facilidade. Entretanto nossa educação não  prioriza a capacidade de detectar e estimular estes dons na juventude. Ao contrário, estabelece moldes únicos que padronizam aquilo que se imagina que possivelmente a sociedade mais reconhecerá como modelo de sucesso. Assim nós - em nosso próprio processo de amadurecimento desde crianças - nos adaptamos, nos tornamos geralmente máquinas de esforço na busca da adaptação. No meio do caminho ‘esquecemos’ nossos dons em alguma esquina temporal. Daí é um pequeno pulo para nos tornarmos adultos que se esforçam brutalmente para chegar lá (onde mesmo?). Este esforço muitas vezes é cruel, pois com a ignorância habitual que temos sobre nós mesmos é bem possível que focalizemos o esforço em campos e naturezas de atividades que estão distantes de nossos dons. 
Quando estamos realizando uma atividade na qual somos destros esta se realiza com menor esforço. Quando desenvolvemos nossos dons naturais é muito mais simples estar em um estado de presença enquanto a ação se realiza. Assim, se podemos identificar estes dons, se podemos estimular por mais vezes ações nas quais somos destros, é mais natural que estejamos mais presentes - e mais do que isso, será mais provável nos darmos conta que estamos presentes. Daqui surge um trampolim essencial para nosso dia a dia de auto-conhecimento: a partir da compreensão limpa do que é um estado de presença, fica absolutamente claro o que não é um estado de presença! O estado de presença não é diferente conforme a atividade; a presença é sempre a presença. Aquilo que é consciente não varia, não muda. Deste modo uma vez que se tenha experimentado a consistência, o gosto, o perfume do estado de presença, não há mais dúvida: sabe-se com total clareza o que não é um estado presente no dia a dia. Como o presente sempre está existindo a cada instante, desde o nascimento até a morte, não há um momento que não requeira a presença para que seja pleno; o eixo que se ganha ao haver presença em uma ação natural (neste caso aquela que requer o uso de um de nossos dons) não se perde desde que haja simultaneamente a compreensão de se estar presente. (!!!) E isto basta para muitos e muitos anos de prática e auto-conhecimento.


abraços
marcos

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Aprendizagem e Educação

Estive em viagem, e aproveitei para participar do curso do Ivan em Barcelona - Educação para uma vida plena. Dos cerca de cem participantes 1/3 eram terapeutas e 1/3 professores, a maioria sem conhecimento prévio do Vedanta. Conversando com alguns era tão divertido ver os olhos brilhando e a mente a 1000 por hora, tentado se dar conta de toda aquela novidade, uma visão de cabeça para baixo sobre o que é a percepção da realidade ... real. 
Aprendizagem e compreensão na primeira infância, crianças, adolescência e adultos, como os diversos componentes da mente se comportam e amadurecem, como a dinâmica entre eles possibilita (ou dificulta) o processo natural de aprendizagem. Como atuar em cada etapa (como pais, professores, terapeutas, líderes, coaches, gestores...) para que a janela da aprendizagem se abra, quais são os elementos de contexto que precisam ser criados - e sustentados. 
Claro que não podia faltar um pouco de tempero: quem, afinal de contas, aprende? Onde está nosso eu quando a compreensão se dá - e quais as dinâmicas dos componentes da mente enquanto isto acontece? 
E, ao final, um golpe sem dó: se aquele que busca construir as condições para um processo de aprendizagem não tem ele mesmo a experiência da presença, o caminho será muito difícil. Aqui, neste campo, não se trata de decorar uma técnica e repassar, não se trata de compreensão teórica, digestão a seco de um conteúdo e repetição. Se trata de  ter conhecido e compreendido a partir da sua própria experiência pessoal, experiência real da vida como um só instante eterno, ainda que por vezes fugaz. Se buscamos atuar junto às pessoas (filhos, colegas, empregados, clientes) para que possam trilhar um caminho de aprendizagem e compreensão, precisamos nós mesmos estar em contínua trilha.
As ramificações são imensas: educação de filhos, estruturas pedagógicas, trabalhos de desenvolvimento com adolescentes, andragogia, processos de grupos e equipes, terapia, desenvolvimento de liderança, coaching, gestão... as bases são elegantes e sólidas, agora cabe buscar através da própria experiência as pesquisas para o desenvolvimento em todos estes campos... isto tudo com certeza ainda vai dar um bom livro.
Por falar em livro, no site da associação Vedanta Advaita (www.vedantaadavaita.com) existem dois livros do Ivan que podem ser baixados em formato pdf de graça: ‘El eterno presente’ e ‘La paradoja divina’ - dêem uma olhada, não preciso nem dizer que vale muito a pena.


abraços
marcos

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Particular e total

No último encontro do grupo de meditação fizemos uma prática bem divertida (pelo menos eu achei...) de atenção externa. Algo como escolher um objeto e mergulhar nele por 20 minutos. Até, quem sabe, poder realmente descansar no objeto.
Como sabemos “as coisas são o que realmente são quando quem observa não é diferente do que é observado”. Hoje lia um livreto de quadrinhos zen antes de uma reunião em um belo escritório, e uma das tirinhas dizia algo como: a flor é uma flor quando quem a observa é uma flor. É o mesmo. Quando a atenção pousa sem esforço na realidade os pensamentos e interpretações cessam, e a permanência da atenção no presente leva a um estado em que a relevância do observador gradualmente diminui, e prepondera  o objeto (a realidade). Até que já não há alguém que observa algo, apenas o algo - apenas o presente e a realidade que se apresenta naquele instante. Há presença e consciência na realidade viva, sem a presença de alguém que se diga consciente de uma realidade viva.
Segundo o Vedanta Advaita a realidade não-dual é o que realmente existe; por conta de limitantes da mente nos habituamos a velar (a realidade não-dual) e projetar (uma realidade não real), a isto se chama maya. Um dos fatores limitantes, conforme explicado por Ivan, é o limitante espacial. 
A ver: podemos observar um objeto (externo ou interno) de duas formas, totalizando-o - nos perdendo no objeto - ou particularizando-o - ou seja, nos distanciando do objeto. Normalmente, quando estamos no dia a dia, nós, por hábito, nos distanciamos da realidade apresentada (através de pensamentos, interpretações, etc.). Por outro lado, quando estamos buscando a quietude interna nós, por hábito, mergulhamos em nossos  pensamentos e fantasias. Pois o que devemos fazer é justamente o oposto! Quando ativos no mundo devemos nos totalizar com o mundo, de modo que os objetos ganhem relevância, e não o sujeito que observa. Quando quietos internamente devemos nos distanciar do que se apresenta, ou seja, particularizar os pensamentos e emoções de modo que o observador ganhe relevância, e não os objetos.
Até parece algo técnico, frio... mas a prática mostra que é bem longe disso a experiência real. 
Experimentar, dia sim dia também, esta postura atenta pode mostrar novas trilhas, até, quem sabe, conseguirmos aprender a descansar na realidade que se apresenta para nós a cada instante.
abraços
marcos

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Poemas

Acho que já mostrei estes poemas de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) alguma vez no passado... mas, afinal, foi no passado. Vale a pena. Para aqueles que tem certa familiaridade com as questões que discutimos nos grupos de meditação vejam como estes versos são pílulas concentradas de alto impacto de filosofia da não dualidade. Divirtam-se.


O Universo

O universo não é uma idéia minha. 
A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha. 
A noite não anoitece pelos meus olhos, 
A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos. 
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos 
A noite anoitece concretamente 
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso. 


Não Basta

Não basta abrir a janela 
Para ver os campos e o rio. 
Não é bastante não ser cego 
Para ver as árvores e as flores. 
É preciso também não ter filosofia nenhuma. 
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas. 
Há só cada um de nós, como uma cave. 
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; 
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, 
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. 

Assim Como

Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer  pensamento,  
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade,  
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada.  
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.  
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.  
O resto é uma espécie de sono que temos, infância da doença.  
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.  


O Espelho

O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa. 
Pensar é essencialmente errar.     
Errar é essencialmente estar cego e surdo. 


Vive


Vive, dizes, no presente, 
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade; 
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente? 
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro. 
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem. 
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema. 
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas  
                como cousas. 
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar. 
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las; 
Vê-las até não poder pensar nelas, 
Vê-las sem tempo, nem espaço, 
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.  
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma. 


abraços
marcos

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mestre e amizade

Deixei Ivan no aeroporto hoje de manhã. Uns poucos dias, mas para mim meses. Como será possível expressar a riqueza desta visita, a boa sorte de poder passar horas e dias na presença simples e plena de uma pessoa que realiza o que é a Realidade, a inescrutável sensação de alegria e responsabilidade de ter esta verdadeira amizade.
Em uma de nossas conversas desta semana Ivan me explicava (já que eu não parava de fazer perguntas...) os diferentes tipos de professores: Gurus, no sentido original, cuidam de seus discípulos como pais cuidam de filhos, de modo mais paternalista; já um Rishi (que já não existe hoje em dia) acolhia uma criança em sua casa, como se fosso de sua família, e lhe ensinava até ficar mais velho, quando então este saía para o mundo. Por fim existem os Nagas, mestres que fundamentam sua relação com os discípulos através da amizade profunda, da disponibilidade de estar ali para ensinar. É esta a qualidade de mestre de Ivan, um Naga, como todos que estiveram no Instituto este final de semana puderam presenciar nas palestras, na proximidade das conversas durante os cafés, na alegria de estar ali para ensinar.
Uma outra característica de um Naga é que o discípulo normalmente desenvolve um certo grau de independência em suas pesquisas e caminho (o que não é usual no caso de Gurus). Por conta disso é tão bem encaixado o papel do Naga na tradição Vedanta Advaita, uma tradição que através da curiosidade e das indagações leva os discípulos a uma natural postura de auto-indagação, e assim os leva a construir com seus próprios pés seus caminhos.
Ivan deixa uma série de sementes. Quanto a mim, uma série delas percebo, muitas outras apenas intuo.  Ainda há outras que são apenas a sensação de que algum aprendizado ocorreu, embora eu não saiba bem como, nem em que esfera. Como quando passamos um par de horas conversando em uma chopperia à tarde, e em um certo momento em que a conversa fluiu de modo profundo, como um avião que faz uma espiral descendente depois de alguns círculos de aproximação,  minha mente não se movia, não tinha para onde ir, apenas se misturava às informações que fluiam. Um sentido muito real e brutal se fazia aparecer através de ecos distantes em minha mente enquanto continuávamos sentados, embora um universo inteiro parecesse ter se movido. Assim é a alegria e a responsabilidade de conviver com Ivan.
Agora seguiremos com nossos próprios pés e pernas, nossa prática, nossas conversas. Seguimos com maior energia, maior curiosidade, talvez mais dúvidas, talvez menos certezas, e certamente com mais alegria.
abraços
marcos

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sobre flechas e karma

Nossa compreensão usual sobre o karma carrega a idéia de culpa e ‘coisa ruim’. Tão longe desta sombra está a definição original deste conceito hindu. Talvez uma das imagens mais didáticas utilizadas para explicar o karma seja aquela das flechas: passamos a vida a atirar flechas para o alto, e, como sabemos, um dia elas cairão. Estas flechas que atiramos são impulsionadas pelo desejo fundamentado na sensação de individualidade do “eu” (ahamkara). A incessante busca pelo fruto, pelo benefício das ações que fazemos, associada à sensação de sermos os agentes da ação, produz uma modalidade de ação no mundo que gera tendências. No tempo linear estas ações cheias de desejo são as flechas lançadas, por exemplo, hoje, neste ano, neste ciclo de vida. Estas flechas cairão, certamente, e isto ocorrerá no futuro. Estas tendências serão concretizadas ao longo de outros ciclos de vida.  
Assim, a construção de nossa vida atual é uma integração de um núcleo de tendências mais fortes (chamadas samskaras em sânscrito) que se conformam no momento de início de um novo ciclo. Esta integração das tendências forma, como em um imenso colar, todas as pérolas que encontraremos em nosso ciclo presente. A isto se dá o nome de Prarabda Karma, o caminho a ser percorrido nesta vida. Deste caminho não se escapa. 
Mais divertido é considerar isto pelo seguinte ponto de vista: imagine que este imenso colar foi o presente mais detalhado e bem construído que as inteligências superiores poderiam ter feito para que você experimentasse cada instante da sua vida com o aprendizado perfeito (vejam bem, perfeito...) para sua própria existência. Isto é o Prarabda Karma. E como se faz para experimentar este presente divino? Estando presente a cada instante (surpresa!). A cada segundo em que criamos uma realidade a partir de nossos pensamentos e novelas estamos desprezando o universo, desprezando um finíssimo presente preparado de forma absolutamente individual para cada um de nós. Divertido não é?
E o mais elegante é que se estamos de verdade presentes, experimentando este presente (em duplo sentido), naturalmente nossas ações serão corretas, e assim não estaremos lançando novas flechas. Presentes, não há um “eu” que possa se apropriar ou iniciar uma ação a partir de seus desejos e egoísmo. Com este fluir no presente atinge-se uma vida em harmonia com seu próprio karma, ou seja, o Dharma.
Porém, se seguimos agindo, seja por omissão ou ação, do alto de nossa ignorância, seguimos lançando novas flechas e gerando outras tendências, novo fluxo de karma, que recebe o nome de Agami Karma. Nesta perspectiva estamos continuamente impulsionando a grande roda de morte e renascimento, também conhecida por samsara.
Cabe a nós, a partir de exatamente agora, nos propormos a encontrar o presente a cada momento, nos propormos a buscar o discernimento sobre o que o presente requer de nós, nos propormos a aceitar um colar de pérolas maravilhoso construído especialmente para cada um: se entregar a cada instante, de agora até o último suspirar. 


PS: este final de semana temos Sesha no Brasil, para os que ainda não se inscreveram, há tempo. Oxalá esteja no karma de vocês poder ter contato com Sesha, um aprendizado com um valor tamanho que não pode ser medido.


abraços
marcos

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Centro do Universo

Normalmente achamos que as coisas acontecem para a gente, expressamos isto ao dizer rotineiramente que não entendemos porque tal e tal coisa aconteceu para a gente.  Agora vejam que divertido seria encarar sob um outro ponto de vista: as coisas não acontecem para mim, elas acontecem simplesmente, eu faço parte desta galáxia de situações, campos e realidades que simultaneamente acontecem. Quanta auto-importância em considerar, mesmo que sutilmente, que as coisas acontecem para mim. Embutida nesta afirmação está uma nova teoria astronômica: no início imaginávamos que a terra era o centro do sistema solar, com o sol e os planetas girando ao seu redor; depois se descobriu que o sol era o centro do sistema solar, e mais tarde que o sistema solar fica perdido no canto de uma galáxia, e agora descobrimos algo incrível: eu sou o centro do universo! (precisaremos de mais ou menos 6 bilhões de universos)
Parece demais? Pois é justamente o que reafirmamos a cada instante de auto-piedade,  justificativas poderosas e razões absolutas sobre nossos atos, omissões, erros, acertos, etc. Neste latifúndio do “eu” que construímos com fervor, a cada vez anexando mais e mais porções de terra consciente por conta de usucapião da ausência de presença, nos deliciamos em cavalgar pelas imensas paragens admirando nossa obra de vida inteira: todo o rol de razões e explicações para nossos rumos tomados. Lá no fundo uma sombra quase imperceptível traz o eco da idéia de um julgamento, então precisamos ter muitas explicações razoáveis.
Todo este latifúndio assume uma capacidade de parecer concreto que se torna mais e mais poderosa conforme cavalgamos por ele, isto é,  conforme pensamos a partir da idéia do ‘eu’ que atua e merece. E nós adoramos apreciar nossa grande propriedade, basta observar o quanto ‘sonhamos acordados’.  Outro dia ouvi uma música que dizia algo como “sonhar não custa nada, sonhar acordado, etc.”. Sonhar acordado custa, e custa muito mais do que imaginamos. 
É nas terras deste latifúndio que tudo o que acontece parece acontecer para a gente. Atenção: é a certeza ignorante da justiça do merecimento que nos leva ao centro egoísta do universo. Em outras paragens isto não é verdadeiro. Quando nos apresentamos presentes ao instante que se sucede e reagimos a ele naturalmente não há necessidade do conceito de justiça ou merecimento. Atuamos em harmonia com tudo mais que ocorre, e neste alinhamento há a paz e a liberdade de não sermos o centro do universo, mas sim o universo todo no holograma da Consciência.
abraços
marcos

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Realidade e Ilusão

Estava outro dia conversando com um grupo sobre a realidade, e como saber se estamos presentes. Fora algumas pessoas que me olhavam com a certeza de que eu era absolutamente louco o grupo caiu naquele espaço da dúvida sincera em que há um leve chacoalho nas premissas do modo habitual de percepção da realidade. 
Parece algo muito simples à primeira vista... mas a questão é justamente esta primeira vista. É como se resvalássemos na realidade (esta ‘primeira vista’) e assim que a atenção traz as primeiras informações do que é observado voltamos a atenção para a memória, buscando uma definição anteriormente registrada, e, quando a encontramos, nos satisfazemos com o registro passado que define e restringe a realidade que se apresenta.  A partir deste ponto a realidade morre, e nos relacionamos com nossa própria memória. 
Se mantivéssemos a primeira vista por mais tempo, isto é, se mantivéssemos a atenção na realidade, sem trazê-la de volta para a memória, começaríamos a perceber e observar o mundo, o objeto, que se apresenta naquele instante - sem nome, sem registro anterior reducionista.
As coisas são realmente aquilo que são quando quem observa não é diferente daquilo que é observado, diz Sesha.
Nos aproximamos da realidade quando não pensamos sobre ela, isto é, quando não a interpretamos e reduzimos. Experimente observar atentamente a folha de uma árvore. Por um longo, longo instante, observe cada detalhe, sem trazer a atenção à memória para resgatar a palavra “folha”. Esta palavra “folha” começa a perder o significado, soa até estranha, conforme a atenção permanece focalizada no objeto real. Aquilo que é observado é muito diferente, maior e mais concreto do que a palavra pode definir. E a relação que se dá entre aquilo que observa e aquilo que é observado também muda.  Segundo o Vedanta não existe um observador (o eu), onde reside a consciência e a capacidade de atender algo, e um objeto percebido (o mundo). O próprio campo de cognição eu+folha é consciente em si mesmo. É isto que se começa a perceber em um estado de presença mais intenso. Entretanto, no dia a dia habitual, o filtro criado pela sensação de identidade egóica da mente (ahamkara) gera a ilusão (maya) de separação, e assim nos habituamos a crer que ‘eu’ sou consciente e observo um mundo diferente de mim.
Toda vez que nos relacionamos com uma interpretação daquilo que existe de fato nos relacionamos apenas com nossas próprias criações, e este que se relaciona deste modo é o ‘eu’ personalístico com sua história e hábitos. A este sujeito - este ‘eu’- não lhe é permitido conhecer a realidade. Quando se conhece a realidade - Presente - não há um ‘eu’ que se reconheça consciente, o próprio sistema se reconhece consciente. Assim é o limiar da não dualidade, a aurora da única liberdade real.


abraços
marcos

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ensinamento e aprendizagem

Diz Sesha que o ensinamento (do ponto de vista da busca da compreensão maior das grandes tradições) não é mais que o processo de mudança de hábitos mentais. Com o tempo os hábitos mentais são reduzidos em quantidade, e com isso o sistema todo fica mais próximo (isto é, aumenta a probabilidade) de estar atento àquilo que se sucede no presente.
Somos mestres em construir e nutrir inúmeros hábitos mentais, colcha de retalhos que é o genótipo de nossa personalidade. Uma vida normal nos leva a dar a ignição nestes hábitos permanentemente, a cada hora do dia, em nosso trabalho, com a família, amigos, e especialmente sozinhos. Existe a crença de que há de fato um “eu” que age, controla, e é por princípio carente (de amor, de atenção, etc.) pois a pedra fundamental de sua construção é a separatividade do todo (!!) já que se não houvesse o filtro da separatividade não haveria porque conceber uma identidade egoísta diferenciada. É por isso que todos nós temos, como tijolo fundamental da construção da personalidade, a carência de algo, e a partir disso se desdobram, conforme as condições de prarabda karma, os diferentes modelos de máscaras e relacionamentos. A compreensão desta carência básica é passo crítico para a aquietação. A não-compreensão acelera o girar eternos das rodas dos hábitos mentais.
Conforme amadurece a percepção do que somos realmente e se disciplina o velho macaco louco (a mente na metáfora budista) os hábitos mentais murcham, começam a exercer menos poder, e aos poucos são esvaziados. Com o tempo ficam menos e menos hábitos mentais, os desejos se sutilizam, e é mais provável que o sistema esteja mais atento ao que se passa a cada instante - ao Presente - e não perdido no labirinto interno. Aos poucos estar imerso na brilhante corrente do presente se torna mais provável, e custa mais voltar ao labirinto dos hábitos mentais. E assim se segue o processo de compreensão.
Outro ponto fundamental da aprendizagem e amadurecimento é que durante os ensinamentos e práticas há instantes - ainda que fugazes - de presença, de compreensão em um nível mais profundo, fora do campo da mente linear. São instantes em que parece que o universo todo está ali. Estes momentos muitas vezes não carregam imediatamente um entendimento racional, por vezes se assemelham a nuvens de quase-compreensão, como se algo certamente tivesse se passado, mas não sabemos determinar o que. Estes momentos são como sementes que ficam latentes, sementes nutridas da presença real que existia naquele momento. No tempo adequado da vida estas sementes começarão a crescer e a compreensão se fará clara. Mas atenção: o momento adequado normalmente não é aquele que o “eu” espera.
Assim se dá o processo real de aprendizagem e desenvolvimento da compreensão. Não é um processo linear, são saltos - para cima, para baixo e para os lados - como um processo dinâmico, turbulento, caótico: a ordem que existe não é reconhecida pela mente que raciocina e que suporta as justificativas e expectativas do “eu”.
abraços
marcos

quarta-feira, 21 de julho de 2010

As pulgas, o fantoche e a prática interna

Quando uma inquietação sobre si mesmo e sobre a realidade começa a aparecer no horizonte de uma pessoa muitas dúvidas aparecem, e também muitas oportunidades de aprendizagem. Neste tipo de situação alguns tem a sorte de encontrar pistas, traços de compreensão que ecoam em seu próprio coração. Quando estas pistas tem origem em uma tradição viva de realização (que tenha pessoas realizadas através deste caminho ensinando) há a possibilidade de uma nova trilha de busca se abrir. E esta trilha é ao mesmo tempo maravilhosa, angustiante, paradoxal.
No caso do Vedanta Advaita, plantam-se “pulgas atrás das orelhas”, uma após outra,  após outra, após outra. É como um vírus de busca da compreensão que, uma vez instalado, começa a agir subvertendo a ordem aparente que a realidade até então claramente apresentava. E o mais divertido é que o indíviduo que tem as dúvidas é justamente aquele que subsiste apenas através da ilusão do pensar-se. Daí se segue uma miríade de armadilhas montadas pelo fantoche que tenta reafirmar a certeza de sua existência real. Então... o Vedanta Advaita explica o teatro, o palco, as cordas e o fantoche (a ilusão da realidade), a um sistema consciente (uma pessoa) que inclui a própria idéia de identidade do fantoche. E este último inicia um processo quase interminável de contraposições racionais e truques mentais para se reafirmar existente.
Que paradoxo! Como seguir?
A resposta não é mental ou linear. A única forma comprovada de se dar conta de tudo isso é a prática. Em especial a prática interna é capaz de desvendar as mais sutis armadilhas engendradas pelo fantoche.
O Vedanta propõe uma prática interna sem qualquer tipo de bengala. A prática interna consiste, de modo simples, em desconectar os sentidos e trazer a atenção para aquilo que ocorre internamente. Ao observar com distância os pensamentos/emoções, aos poucos estes próprios perdem intensidade, e aumenta a intensidade da presença daquilo que observa. Conforme a atenção se fortalece na própria presença deste observador o silêncio se aprofunda, e novas trilhas de percepção e consciência se abrem. 
Não existe caminho de compreensão da realidade que se baseie apenas em conhecimento teórico; a experiência é que tem, de fato, validade. Um “eu” que pensa  pode passar vidas no labirinto das dúvidas teóricas. Assim, todas as pulgas atrás da orelha, ao final, são esclarecidas pela prática. 
Just do it.
abraços
marcos

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Pobre "eu" ignorante

Diz o Bhagavad Gita em sua décimo oitava estância:
Pura é a renúncia daquele que dizendo “devo fazer isto” cumpre sua ação devida sem interesse próprio ou desejo de recompensa. O renunciante, preenchido de pureza, não repugna as ações ingratas nem se aficciona às gratas.
De fato não é possível aos seres encarnados renunciarem inteiramente à ação. Assim, em verdade deve ser chamado renunciante aquele que renuncia ao fruto da ação.
Para nós, nascidos criados e firmemente enraizados nesta cultura ocidental estas slokas (versos) do Bhagavad Gita soam como um paradoxo, um verdadeiro mistério. Isto para as mentes agraciadas com um karma que traga a chama da curiosidade espiritual. Para outras mentes de pior sorte é simplesmente um texto indiano antigo que carece de sentido no mundo atual. 
Me fascina especialmente a proposta de ser renunciante em plena ação - é este o princípio fundamental do caminho da harmonia pregado por Morihei Ueshiba ao sintetizar o Aikido. 
A renúncia ao fruto da ação não implica inação, como bem explicam estas slokas; implica agir conforme se apresenta a realidade no momento presente, implica reagir utilizando todo o seu sistema (corpo, mente, sentidos) àquilo que se faz acontecer. Um pouco mais além, esta renúncia ao fruto implica estar totalmente Presente. 
O Vedanta Advaita explica de modo contundente os diferentes estados de consciência existentes e potencialmente disponíveis para os seres humanos. Em vigília (quando não estamos dormindo) normalmente estamos mergulhados no estado de pensamento. Conforme desenvolvemos o músculo da presença e se aquieta a agitação mental estados de maior intensidade de presença são experimentados: observação, concentração e meditação. Em nenhum destes outros estados há pensamentos, entretanto há Consciência e se atua de modo mais efetivo, natural e harmonioso com a realidade. Em nenhum destes estados (exceto no de pensamento) há um “eu” com história, memória e RG. 
Voltando ao nosso tema, não haverá renúncia enquanto houver um “eu” que se pense renunciando. Isto ocorre porque este “eu”, ao se considerar mais “evoluído” e “desenvolvido” por estar renunciando ao fruto de fato está obviamente criando o desejo por um outro tipo de fruto, talvez não imediatamente derivado daquela ação específica, talvez mais sutil, mas ainda assim um resultado futuro esperado (por exemplo: “evoluir espiritualmente”). Assim, o caminho para se conhecer o que é a renúncia à ação passa pela presença (de novo!!).
O mistério da renúnica ao fruto tem que ser pesquisado, tem que ser objeto de investigação diária nas atividades que fazemos. Neste quebra-cabeças muitas vezes algumas fichas relevantes caem quando nos damos conta do tipo de resultado que sutilmente (ou não) esperamos das ações que executamos no dia a dia. E nestes momentos se coloca em cheque o quanto realmente alguém está disposto a buscar a compreensão e o conhecimento de si mesmo e da natureza da realidade. 
É muito comum e fácil se alocar a responsabilidade pela existência de tantos desejos de resultados e frutos egoístas (voltados para cada “eu”) na sociedade atual, em suas regras explícitas e implícitas, em seus hábitos e costumes.  As organizações são exemplos disto, com seus sistemas de remuneração e incentivos. Daí muitas vezes surge a pergunta: “como posso tentar renunciar ao fruto da ação (estar presente!) quando minha empresa me mede pelos meus resultados?”. Embutida nesta ignorante questão estão duas crenças: a primeira é a crença de controle, acreditar que de fato através de nosso esforço e desejo é possível controlar o rumo dos acontecimentos; a segunda é a crença de que a entrega (presença, atuar em reação natural à realidade) vai produzir resultados piores, ou diferentes do que gostaríamos que ocorressem (!!!). Ora, é o mesmo que dizer que este pobre “eu” é maior que o Absoluto!
Há que se pesquisar internamente no dia a dia, e há que se disciplinar na prática interior de silêncio para que cada um a seu tempo possa se dar conta de seus mais profundos hábitos mentais, se dar conta das raízes mais sutis de resistência deste “eu” pensado e pensante, de modo que a possibilidade de viver em estado Consciente se torne mais provável. 
abraços
marcos

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O jardim e a mata

Alguns poucos livros eu nunca deixo que se afastem de mim. Um deles é o “I am That”, do Nisargadatta Maharaj. Me deparei com um pequeno trecho especial agora há pouco:
“Não peça para a mente confirmar o que está além da mente”.
Não é de chacoalhar as certezas? Esta é uma típica ‘pulga atrás da orelha’ que o caminho de auto-conhecimento - em especial linhas de jnana yoga, caminho do conhecimento - fermenta e faz brotar. 
É como se tivéssemos a sensação de ter um belo jardim, onde aparentemente tudo está em seu perfeito lugar, uma ordem criada pela nossa idéia do que é um jardim: flores roxas neste canto, um pequeno arbusto ali, um longo gramado bem aparado. Porém aos poucos começamos a duvidar da realidade deste jardim, como em um sonho ele parece ter realidade só quando pensamos sobre ele de um modo específico. Quando deixamos de pensar deste modo o jardim parece perder o suporte de realidade, e algo diferente transparece. As flores por vezes somem, por vezes parecem imensas trepadeiras selvagens. Aquela sensação de ordem e conforto por vezes dá lugar a uma sensação de se estar virado do avesso, com um pequeno frio na barriga. Será que o meu maravilhoso jardim não é de verdade?
Aos poucos a dúvida sobre a realidade do jardim cresce, e começa a ser maior do que a certeza. Cada vez mais elementos perdem a consistência que pareciam ter. O intocável gramadao por vezes parece um caótico solo de uma mata atlântica, cheio de folhas, raízes e animais pequenos. Percebemos que este jardim só traz sentido de realidade quando inserido em um conjunto de condições que criamos ao formular nossos pensamentos sobre o que é a própria realidade. Finalmente começamos a perceber que o jardim  é apenas um cenário em 3D que nos dava a impressão digital do jardim. A tela em 3D dá a sensação de controle e conforto... para o “eu”. Uma realidade existente apenas quando pensada. Uma realidade inexistente. A mata do jardim real traz a surpresa, a compreensão o caos e a ordem, a sensação de plenitude e entrega.
Nesta metáfora o jardim real (a mata) só se percebe a partir das próprias naturezas das plantas e objetos que compõem, não se percebe “de fora”. O presente e a realidade nunca são “de fora”, não são vistos, sentidos ou percebidos de fora. Cada coisa só é realmente o que é quando é percebida a partir dela mesma. Para perceber as coisas deste modo há que se silenciar a mente. Assim a mata (realidade) nunca é percebida por esta mente. É por isso que não se pode pedir para a mente (que criou o jardim em 3D através de incessantes pensamentos condicionantes) atestar a existência da mata.
De modo análogo, não se pode pedir para a mente linear nos dar a certeza da compreensão dos estados de consciência associados ao presente e não duais. A mente linear é a causa concreta da dualidade, da diferenciação (do jardim). O que existe de verdade está disponível para ser vivido e compreendido pois há consciência em todos os estados; mas não está disponível para ser vivido pelo “eu”. 

abraços
marcos

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Neti Neti

Minhas roupas eu não sou, afinal posso descartá-las e continuo existindo.
Minha família e meus amigos eu não sou, sigo existindo e consciente de mim sem a presença deles.
Minha mão, meu braço eu não sou, mesmo em um exercício teórico sigo consciente de mim mesmo sem estas “peças”.
O corpo denso é apenas um animalzinho vivo, parte de um sistema energético que parece ser próprio. Em silêncio um pouco mais profundo se reconhece esta massa que respira e se mantém vital. E se reconhece com estranheza que “eu” não sou esse corpo. Tenho consciência que ele existe, mas compreendo que não sou idêntico ou limitado a ele. 
Minha história eu não sou, posso ficar sem RG, sem nome, sem álbum de fotografias, e ainda sigo existindo.
As memórias são como folhas secas caídas no inverno, sua própria realidade se torna tão tênue quanto um só fio de seda conforme a presença se intensifica. Se pode mesmo observá-las como potencialidade e parece até bizarro que estas folhinhas se creiam reais no dia a dia.
O que sou então? O que sobra? 
Neti neti significa “não isso, não isso”. Uma das formas de realizar o que somos é descartar o que sabemos não ser. O que sobra?
A prática interna de atenção (usualmente chamada de meditação) é um processo vivo de descarte. A prática de auti-inquirição proposta por Ramana (“Quem sou eu?”) quando aplicada apropriadamente oferece o mesmo norte. 
A intensificação do estar presente leva ao descarte de tudo o que não é real, neste caso os pensamentos/emoções, trazendo consigo sua carga de memória e história e futuro e expectativas. A busca instigante por aquilo que é real a cada 15, 30, 60 minutos de prática é chave. 
Nesta intensificação do estar e se saber Presente a atenção se volta cada vez mais para si mesma, há um polo atrator, que é a própria fonte de atenção. Aquilo que é capaz de compreender, Aquilo que é Consciente, passa a observar a si mesmo. E aí principia a Realidade.
abraços
marcos

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A renúncia à ação

Qual a natureza da renúncia à ação? É muito comum que em algum momento da vida ou da trilha de auto-conhecimento as pessoas se sintam com uma vontade de “deixar tudo”, buscar uma vida completamente diferente. Para algumas pessoas isto se reflete em um desejo de viver no campo, para outras de se instalar em um mosteiro.
Em uma escala menor o mesmo se dá quando uma pessoa decide que  não vai agir, mas permanecer passiva ante o que se passa, supostamente porque isto seria mais sábio do que “se misturar  com este mundo”.
É essa a base da ilusão da que uma pessoa “espiritualizada” apenas reage sorrindo com ares de incenso a tudo que ocorre. Muito provavelmente esta pessoa está de fato fugindo de sua natureza de ação no mundo, de seu próprio prarabdha karma, ou o karma desta existência individual neste ciclo específico.
Na Índia a renúncia à ação corresponde também a uma categoria ou natureza de pessoas chamados sannyasin; são aqueles que se vestem na cor de açafrão, monges renunciantes. Em tese na India antiga estas pessoas teriam deixado para trás as passagens anteriores desta vida, tendo cumprido suas obrigações e responsabilidades naturais que lhes tinham sido apresentadas (família, trabalho, etc.) e a partir de um certo momento renunciavam às posses materiais, e à ação.
Hoje esta visão está um tanto confusa.
Na raiz da renúncia de um sannyasin está algo muito mais profundo e de difícil compreensão para os ocidentais, que é o desapego mental aos objetos de sensação. Antes da renúncia à ação já está consolidado o desapego à própria idéia da ação, desapego do indivíduo pelo resultado desta ação, e, ao final, desapego da ação mesma.
Desta forma a renúncia verdadeira já ocorreu internamente antes mesmo que uma renúncia externa se faça evidente, e nesta situação não há qualquer tipo de dúvida ou angústia quanto à própria persepctiva da renúncia. Assim, se você em algum momento pondera a respeito de renunciar ou não a alguma coisa, saiba que ainda não está perto de estar pronto para a renúncia verdadeira. Neste momento o desejo da renúncia é apenas mais uma construção da personalidade.
A inação forçada originada de uma renúncia imatura gera tantas tendências futuras (karma) quanto a ação forçada (não natural, nascida da perspectiva do benefício do “eu”). Vivemos em um mundo de ação e temos responsabilidades conforme o ambiente e o nosso sistema desde que nascemos: nosso corpo, nosso entorno, nossas relações. A fuga da ação requerida pelo presente que nos é trazido a cada momento não é um caminho válido. Antes devemos aprender a reagir naturalmente a cada instante, e a partir daí o desenvolvimento do discernimento (viveka) pode nos levar a compreender a natureza da realidade, quando então o desapego mental pode ser forjado. Procurar inverter esta ordem natural do universo a partir de um desejo da personalidade traz apenas mais confusão. 
abraços
marcos

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Outra vez

Uma e outra vez caímos novamente na certeza de sermos concretos, definidos, atuantes, importantes. 
Concretos em nada somos, basta estudar os vazios das ondas probabilísticas da física quântica. Definidos ainda menos, qual fronteira da sua identidade quando se ama? Atuantes por pura ignorância nos acreditamos, a movimentação de todo o universo se dá através das gunas - qualidades primárias da roda da existência (Sattva, Rajas, Tamas), como os zeros e uns dos computadores constróem mundos cibernéticos as gunas em movimento é que determinam o curso de toda a ação. Nossa auto-proclamada importância  cede a uma muito sutil pressão: a importância nasce a partir de uma referência deste “eu”, referência histórica, memória; sem o sistema de referências não sobra um “eu” que julgue que o munda gira à sua volta. São certezas básicas em nossa vida cotidiana, e ainda assim inapelavelmente falsas. 
Por alguma benção existem momentos de lucidez, de respiro, em que estas certezas tão pobres são simplesmente percebidas como ilusão. Percebidas como realmente o-são, como bolhas de sabão. Muitas vezes tenho tido a oportunidade e a sorte de assistir estes momentos de compreensão, e não há nada mais belo. Estes instantes em que “uma grande ficha cai”, em que há um desvelar do que a realidade pode ser, são mágicos, e disponíveis para todos nós. Nestes instantes há compreensão, e não há um “eu”que compreenda. Se há “eu” não há compreensão, se há compreensão não hé “eu”, porque a compreensão só existe no instante presente. Porém entre um instante desta qualidade e outro podem se passar dias, meses, anos. Como uma primavera que dura dias e um inverno que se mede em anos. Neste longo ínterim escorregamos intensamente para as certezas. Como isto se dá se no instante mágico da compreensão havia tamanha intensidade de saber?
Isto se dá porque as rodas da mente foram postas a girar há muito tempo, e com muita inércia. Como um caminhão carregado que desce a serra em velocidade tem dificuldade em brecar, do mesmo modo nossa mente tem uma propriedade de alta velocidade (e normalmente em aceleração) de pensamentos, ou seja, alta inércia, daí a dificuldade em se alcançar um estado de silêncio real. Dentro do imenso campo de infinitos pensamentos que geramos quase continuamente um pensamento é a pedra fundamental para todos os outros, a raiz que os sustenta. Este é o pensamento do “eu”. Este perfume do indivíduo que se sente atuante, importante e diferente permeia e dá vida a todos os outros pensamentos/emoções. 
Deste modo um instante de compreensão mais real é imediatamente seguido por um novo-velho pensamento, que sutilmente se apropria da história daquele instante. Aquele “eu” que não estava vivo no instante da compreensão se apropria da memória daquele instante, e o declara de sua propriedade através da ilusão de ter sido agente de compreensão, de ter vivido aquele momento, a frase chave que mostra esta armadilha é “eu compreendi”. De fato o sujeito desta frase não pode ser o eu, realmente.
Estes instantes de compreensão são lindos e vitais, e funcionam como faróis para tempestades; a consciência de todo o processo de apropriação executado pela personalidade pode nos ajudar a tornar estes instantes mais frequentes, e como em um infinito quebra-cabeças, as peças, aos poucos podem começar a se encaixar.
abraços
marcos