sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

em 2009...

Uma citação de Nisargadatta para inspiração no próximo ano:

Love says "I am everything".
Wisdom says "I am nothing".
Between the two, my life flows.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Prática da beira do mar

Estava passando um final de semana na praia alguns dias atrás, e fui até a beira do mar, naquela faixa que as ondas varrem quando chegam, e varrem de volta quando se vão, às vezes com água acima da canela, às vezes seco.
Observava o horizonte e as ondas, e ouvia cada som: os ventos, ondas quebrando lá no fundo, água raspando areia ali pertinho, espuma no ar, e um som base de fundo. Enquanto isso deixei os pés se fixarem na areia enquanto a água ia e vinha. Fechei os olhos e comecei a buscar o equilíbrio físico: conforme a água passava os pontos de equilíbrio dos meus pés com a areia mudavam. A cada mudança buscava novo ponto de equilíbrio, sem tirar os pés do chão, sem tirar a atenção de tudo o que ocorria em minha volta, de olhos fechados. Sem antecipar a chegada da onda por causa de um novo estrondo, mas buscando a flexibilidade a cada mudança. Sem tirar os pés do chão, aceitando cada diferente onda e volume de água, cada corrente e mudança de topografia da areia, apenas buscando fluir com a situação, em equilíbrio móvel, mas profundo. Percebi também como isto é a base de todo o aikido – mas isto fica para um outro dia.
Assim permaneci por um longo tempo.
Por vezes vinha para dentro (de mim mesmo) e me dava conta de um grande silêncio e paz. A simetria entre o externo e o interno é linda: a busca do equilíbrio físico (externo) exige plena atenção, e este estado é o mesmo, seja dentro ou fora. Assim quando estamos em um estado de maior harmonia fora, e nos voltamos para dentro, o mesmo estado ali se mostrará. E vice-versa.
Cada instante de vida traz uma possibilidade nova de aprendermos a buscar e compreender. Como no nosso trabalho diário. Ontem conversava com uma pessoa que faz mentoring comigo, e ela falava sobre seus pontos positivos / negativos e como “melhorar”. Às vezes estamos tão rígidos presos a uma necessidade de enquadramento - que é fruto basicamente dos nossos medos mais simples – que qualquer movimento diferente do previsto nos desequilibra, nos derruba. Há que ser buscada uma harmonia das nossas forças naturais com a realidade, de modo que possamos viver em estado de equilíbrio. Este estado de equilíbrio é único para cada indivíduo. Temos capacidades desenvolvidas e outras a desenvolver, mas não sob a ótica de um molde externo, e sim do ponto de vista mais sábio e interno, aquele que nos levará a um equilíbrio dinâmico com a realidade. Como permanecer em equilíbrio e paz à beira do mar.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Liberdade

Dizemos ansiar pela liberdade, ansiar por tirarmos este peso de existir em uma certa forma, sermos livres... Quão amplamente ilusórios e plenos de ignorância são nossos desejos recorrentes. Mas se somos fundamentalmente o brilho da ignorância associado a um reflexo da infinita consciência, não há qualquer surpresa nisso. De fato se diz que a ignorância (em um sentido bastante alto) é que dá forma a nós enquanto indivíduos, pois a remoção da primeira nos leva de volta ao estado não-dual de existência plena. É como a poeira (ignorância) que dá forma a um invisível espelho de cristal (Consciência).E quando uma pequeníssima área deste espelho é limpada o brilho é tão forte que – algumas vezes – nos faza recuar. De volta ao conforto das certezas nascidas da dúvida.
A liberdade é tão potencialmente devastadora que por vezes nos traz nossos mais remotos e profundos medos. Perceber que de fato somos algo de natureza muito distinta daquilo que usualmente nos acostumamos a pensar que somos traz um assombro comprido, altíssimo, sem chão. Dar-se conta de não ser uma personalidade e mesmo assim observar que se pode seguir vivendo de modo realmente livre é espantoso. O que fazer com todo aquele arsenal de gostos, apegos, raivas de estimação, justificativas e medos colecionados? Como abrir mão desta minha imagem tão árduamente moldada? Aqui começa o trabalho do buscador, pois há que se suar, e muito, muito mesmo.
A liberdade não é fazer o que você quer. Veja o contra-senso: você quer controlar a sua forma de liberdade. Uma vontade da sua personalidade, nascida de seu desejo e apego, só gera mais desejo, apego e controle, qualidades que não levam à liberdade.
O livre arbítrio de não se apoderar do que ocorre, aceitar fazer parte do mundo sem buscar um fruto egoísta: esta é a natureza da liberdade. Ao alcance do coração, para todos nós. Mas precisamos buscar.