terça-feira, 22 de janeiro de 2008

museu de conhecimento

Nisargadatta uma vez disse: um homem acorda, e ao se olhar no espelho percebe que precisa se barbear; porque então procurar mais nove espelhos para encontrar a mesma resposta? Faz mais sentido ir se barbear de uma vez. Ele respondia a uma pergunta de um visitante sobre o livros e conhecimento no caminho do auto-conhecimento, da busca final. Ler alguns, e depois mais outro, e outro, sempre com a boa desculpa indulgente da procura pelo conhecimento. Porém este não é mais um campo da ciência ocidental, em que o acúmulo de conhecimento tem alto valor em dinheiros acadêmicos, irmão do acúmulo de riquezas na economia pessoal. A busca de auto-conhecimento necessita sim, na grande maioria dos casos, de conhecimento, e leituras são bem vindas. Porém a partir de um tênue ponto começamos a trocar a pesquisa e experiência real por uma interminável coleção de conceitos. Quantas vezes não mobiliamos um precioso museu interno de conhecimentos, que com o tempo nos traz mais orgulho e apego, nos distanciando mais ainda da procura por nós mesmos...
O que vale, sempre, em todos os casos, é a experiência individual. De nada vale o recitar de uma chuva de conceitos complexos sobre o silêncio interior se comparado a um único instante de experiência real de silêncio. Todos os livros, conhecimentos e conceitos, não passam de construções da mente e tem valor apenas quando podemos validá-­los e significá-los – ou não – através de uma experiência real.
Ao longo do caminho de busca é muitas vezes mais fácil e confortável ler um capítulo de um mais um novo livro de um autor famoso sobre como ser feliz do que buscar a disciplina de sentar, fechar os olhos e buscar a compreensão de si mesmo. É apenas mais uma armadilha do caldo de egoísmo da personalidade.
De modo análogo tratamos nós, em muitos casos, do caminho que imaginamos que devemos escolher para a busca. Desperdiçamos tempo precioso na ponderação sem fim em nosso conselho interno de vozes sobre qual a prática que devemos seguir, qual a linha a que nos adaptaremos melhor etc. É justo que tenhamos dúvidas, mas é preciso ter coragem de praticar e partir para a busca. Só com os primeiros passos será possível avaliar a trilha e o norte que devemos seguir.

4 comentários:

Sueli disse...

Dentro da minha dificuldade de encontrar a prática ideal, decidi seguir aquela que tem feito mais sentido: a da honestidade comigo mesma. Nunca achei fundamental perder horas incontáveis nas bibliotecas de acúmulo de conhecimento. Palavras são vazias, até que se transformem em atos. O jardim das boas intenções está povoado de ervas daninhas que se mimetizam, na tentativa de se passar por flores perfumadas. Meu porto seguro é o coração que sabe. Dele nasce a intimidade com a Presença que tudo permeia. Apesar de mim.

Lara disse...

Vejo como duas coisas distintas o auto-conhecimento e o conhecimento formal sobre auto-conhecimento, um interno e outro externo.
O segundo um tatear sobre como buscar o primeiro e pode fazer parte de uma preparação. Com tantas possibilidades à disposição, pode vir o receio de puro charlatanismo.
Minhas primeiras experiências reais somente ocorreram após encontrar pessoas, que acreditei confiáveis, para criar ou acompanhar estas oportunidades.

Anônimo disse...

Marcos,
Talvez me falte o conhecimento básico do primeiro espelho - tenho pouca familiaridade com a meditação ou outras formas de auto-conhecimento - mas aqui vão alguns comentários sobre este texto e o anterior.
A idéia da máquina de ganhar docinhos é muito interessante. Acho que parte das manifestações depressivas ou de ansiedade podem decorrer da insatisfação deste algo anterior ao "eu" com os docinhos que estão sendo recebidos. Esta insatisfação pode ser decorrente de uma limitação na quantidade de docinhos (imagino que muitos possam viver bem por toda a vida com uma boa cota de docinhos) ou de uma mudança ou acentuação de apetites até então desconhecidos.
Estes apetites não saciados podem incluir a necessidade de auto-conhecimento ou o desejo de compreensão do mundo, podendo ser o ponto de partida de perguntas feita pelo "eu" e possivelmente não respondíveis pela mente associativa.
Mas estes apetites, apesar de sua aparente nobreza, não podem ser entendidos como mais uma fome, talvez por uma refeição (ou um desejo de viver em paz) e não por uma bala? Nesta hora a máquina de comer doces busca ps meios que conhece para alcançar uma saciedade, apesar do caminho para alcançar esta refeição não serem as múltiplas referências e textos.
Ao invés de um "eu" superficial + algo que o precede imaginaria talvez alcançar um "eu" mais profundo, que se vale não só da razão instrumental, mas que sente outras fomes e frente a elas tenta desenvolver outras formas de pensar/agir/ser.
um grande abraço,
Tatit

Anônimo disse...

Tenho dúvidas sobre qual passo é o primeiro a ser tomado, o da decisão de buscar o verdadeiro ser dentro de nós, ou será a coragem necessária para a busca? Se queremos algo mais revelador de nós mesmos ou do mundo, ou se temos a coragem para iniciarmos ou continuarmos o caminho. Sabendo que o caminho é árduo, acho que a coragem deve ser superior à vontade, mas sem vontade teremos coragem de iniciar, ou continuar?