terça-feira, 20 de maio de 2008

very limited affairs

Outro dia assistia a um vídeo do Krishnamurti... que nem me atrai muito, mas de qualquer modo é fantástico. Sobe ao pequeno palanque embaixo de um toldo branco em um parque num dia chuvoso na Inglaterra um velho senhor, já um pouco curvado. Sem perder tempo começa a falar, direto ao ponto. Sem falsas delicadezas, sem manipulação emocional sobre a platéia - o que é tão sordidamente comum nos pseudo-gurus da nova era que vendem toneladas de livros – ele mergulha de imediato no convite a uma busca conjunta, e não no convite à simples audição de uma palestra. Deixa claro que não há resposta que possa vir de fora, de alguém, de um professor. Ninguém tem essa autoridade. Urge a platéia para que inquiram junto com ele, busquem as respostas, e não esperem para ouví-las. E ainda assim percebia claramente, naquele mesmo instante, como a maior parte das pessoas apenas aguardava ouvir “a verdade” em vez de se questionar.
O auto-questionamento é o fundamento proposto na busca. Ramana Maharshi escreveu uns poucos pequenos livretos - self inquiry, who am I, instrução espiritual – que tratam deste simples método (
http://www.arunachala-ramana.org/).
Em um nível infinitamente mais simples o mesmo princípio se aplica às questões psicológicas nas terapias comuns, ou nos processos de mentoring, coaching, etc. E mesmo neste nível nós já sentimos bastante dificuldade em colocar o pé na lagoa de nossos hábitos e vícios mental-físico-emocionais. É de se imaginar quão maior será a dificuldade em se mergulhar nas cavernas mais profundas da raiz do próprio eu.
Porém uma vez perdida a inocência das certezas infantis da permanência das coisas, da realidade, do eu, não há como não sentir a atração pelo mergulho, pela busca.
Krshnamurti, olhos semi-cerrados em total presença, dizia: todos os nossos grandes problemas pessoais são ao final ‘very limited affairs’. Quão mais verdadeiro do que isso se pode ser? Porém a percepção de como nos prendemos a questões ínfimas do eu-goísmo costuma aparecer raramente se não desgrudamos pelo menos por alguns segundos nossos ouvidos de alma do ipod-mântrico dos hábitos e vícios da personalidade.