segunda-feira, 9 de março de 2009

Objetos e sujeitos

Parece tão seco discutir sobre sujeitos e objetos e as características do processo de cognição. Lembro das primeiras vezes que ouvi o Ivan explicar sobre o agente que observa (sujeito) e o que é observado (objeto). Pensava comigo mesmo “ok, mas no que isso me ajuda? Quero compreender a razão da existência, e não argumentar sobre ‘coisas’ que são observadas...”. It´s been a long way, e hoje algumas destas proposições são assustadoramente próximas da realidade cotidiana.
No ocidente nos parece tão óbvio que há um sujeito que vive imerso em uma realidade, e mais, que este sujeito é dotado de consciência, sendo esta última um atributo do primeiro, e naturalmente este sujeito é capaz de observar a realidade externa a ele. Assim nós cremos que a realidade é uma incessante fila de eventos da qual somos testemunhas.
Segundo a filosofia Vedanta Advaita isto também é verdade. O pequeno problema é a palavra ‘também’. Pois existem diversas possibilidades de percepção, ação e vida. Quando dormimos a realidade onírica é real enquanto dura o sonho, ou seja, para o ‘sujeito onírico’. Porém quando acordamos o novo sujeito (digamos vigílico, aquele que você está mais acostumado a pensar que é) percebe que aquela realidade onírica não era “real”, pois você acorda e percebe outra realidade.
Do mesmo modo existem outros estados possíveis de consciência em que o sujeito se dá conta de que o estado vigílico tampouco é real. Estes estados são observação, concentração e meditação. Uma das dinâmicas que mudam conforme se altera o estado de consciência é a relação entre sujeito e objeto.
Vamos considerar a situação em que estamos acordados (no sentido mais rasteiro), executando nossas ações no mundo, como trabalhar, se movimentar, etc. Chamemos de objetos qualquer coisa que possa ser observada ou sentida pelos sentidos. No estado vigílico usualmente percebemos os objetos à distância (particularizamos o objeto ao constituir distância cognitiva entre o sujeito e objeto), mas nem sempre foi assim. Basta observar uma criança e perceber como ela observa um brinquedo: ela está imersa no brinquedo. Nós temos esta capacidade inata de observar a partir da própria coisa observada! Neste modo de percepção não há diferença entre o que se observa e quem observa... Neste modo de percepção não há diferença entre quem ouve uma música e as próprias ondas e cenários que se abrem na melodia e ritmos. Neste modo de percepção não há separação entre o amante, o ser amado e o próprio amor.
Assim é um pouco como se o observador se percebesse observando o objeto a partir do próprio objeto observado. Isto é possível por um elemento de construção fundamental do universo: é a Consciência que – ao final – é testemunha e objeto simultaneamente de tudo o que ocorre. Esta propriedade não é do “eu”, do sujeito que pensa, como normalmente nos habituamos a construir a realidade em nossas mentes. Nós não somos (neste sentido) conscientes de um processo que ocorre externamente a nós. Nós somos parte integrante de um processo auto-consciente, auto-iluminado. Uma interpretação mental de nossa parte – que busca estabelecer um agente que faz a ação - apenas reduz o processo Consciente (maiúsculo) a uma sombra percebida por nós, como se agentes reais do que ocorre fossemos. A mente linear limita e diferencia uma Realidade que existe em uma dimensão que não pode ser percebida pela mente mesma.
Assim o ‘árido’ tema do observador e do objeto descortina trilhas inimagináveis de pesquisa e busca. Não é por menos que o mais profundo livro de Ivan se chama ‘Kshetra Kshetragna: El Campo y el Conocedor del Campo’.

Um comentário:

Anônimo disse...

Thiele,
A união do observador e observado de fato traz este presente puro, já vivenciei alguns momentos plenos como este. O exemplo da criança é perfeito. Isto nos ajuda a não criar pré-conceitos, ou pré-defininições sobre as pessoas, situações e mesmo coisas. Por outro lado, a dificuldade está em parar esta máquina que tudo rotula. Na perspectiva mais "selvagem" do ser humano, o pré-conceito acabava por ser uma vantagem na sobrevivência. Explico, lá atrás o fato de um homem selvagem rotular um leão como ameaça o colocou em vantagem para que, logo ao ver o leão, reagiria rapido em fuga para salvar sua vida vida. Então a pergunta, não seria um pouco anti "natural" botar de lado este mecanismo humano ?? Talvez por isto seja difícil seguir com as práticas, apesar de não ser uma desculpa.
Grande Abraço. RB