sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Prática da beira do mar

Estava passando um final de semana na praia alguns dias atrás, e fui até a beira do mar, naquela faixa que as ondas varrem quando chegam, e varrem de volta quando se vão, às vezes com água acima da canela, às vezes seco.
Observava o horizonte e as ondas, e ouvia cada som: os ventos, ondas quebrando lá no fundo, água raspando areia ali pertinho, espuma no ar, e um som base de fundo. Enquanto isso deixei os pés se fixarem na areia enquanto a água ia e vinha. Fechei os olhos e comecei a buscar o equilíbrio físico: conforme a água passava os pontos de equilíbrio dos meus pés com a areia mudavam. A cada mudança buscava novo ponto de equilíbrio, sem tirar os pés do chão, sem tirar a atenção de tudo o que ocorria em minha volta, de olhos fechados. Sem antecipar a chegada da onda por causa de um novo estrondo, mas buscando a flexibilidade a cada mudança. Sem tirar os pés do chão, aceitando cada diferente onda e volume de água, cada corrente e mudança de topografia da areia, apenas buscando fluir com a situação, em equilíbrio móvel, mas profundo. Percebi também como isto é a base de todo o aikido – mas isto fica para um outro dia.
Assim permaneci por um longo tempo.
Por vezes vinha para dentro (de mim mesmo) e me dava conta de um grande silêncio e paz. A simetria entre o externo e o interno é linda: a busca do equilíbrio físico (externo) exige plena atenção, e este estado é o mesmo, seja dentro ou fora. Assim quando estamos em um estado de maior harmonia fora, e nos voltamos para dentro, o mesmo estado ali se mostrará. E vice-versa.
Cada instante de vida traz uma possibilidade nova de aprendermos a buscar e compreender. Como no nosso trabalho diário. Ontem conversava com uma pessoa que faz mentoring comigo, e ela falava sobre seus pontos positivos / negativos e como “melhorar”. Às vezes estamos tão rígidos presos a uma necessidade de enquadramento - que é fruto basicamente dos nossos medos mais simples – que qualquer movimento diferente do previsto nos desequilibra, nos derruba. Há que ser buscada uma harmonia das nossas forças naturais com a realidade, de modo que possamos viver em estado de equilíbrio. Este estado de equilíbrio é único para cada indivíduo. Temos capacidades desenvolvidas e outras a desenvolver, mas não sob a ótica de um molde externo, e sim do ponto de vista mais sábio e interno, aquele que nos levará a um equilíbrio dinâmico com a realidade. Como permanecer em equilíbrio e paz à beira do mar.

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