segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Liberdade

Dizemos ansiar pela liberdade, ansiar por tirarmos este peso de existir em uma certa forma, sermos livres... Quão amplamente ilusórios e plenos de ignorância são nossos desejos recorrentes. Mas se somos fundamentalmente o brilho da ignorância associado a um reflexo da infinita consciência, não há qualquer surpresa nisso. De fato se diz que a ignorância (em um sentido bastante alto) é que dá forma a nós enquanto indivíduos, pois a remoção da primeira nos leva de volta ao estado não-dual de existência plena. É como a poeira (ignorância) que dá forma a um invisível espelho de cristal (Consciência).E quando uma pequeníssima área deste espelho é limpada o brilho é tão forte que – algumas vezes – nos faza recuar. De volta ao conforto das certezas nascidas da dúvida.
A liberdade é tão potencialmente devastadora que por vezes nos traz nossos mais remotos e profundos medos. Perceber que de fato somos algo de natureza muito distinta daquilo que usualmente nos acostumamos a pensar que somos traz um assombro comprido, altíssimo, sem chão. Dar-se conta de não ser uma personalidade e mesmo assim observar que se pode seguir vivendo de modo realmente livre é espantoso. O que fazer com todo aquele arsenal de gostos, apegos, raivas de estimação, justificativas e medos colecionados? Como abrir mão desta minha imagem tão árduamente moldada? Aqui começa o trabalho do buscador, pois há que se suar, e muito, muito mesmo.
A liberdade não é fazer o que você quer. Veja o contra-senso: você quer controlar a sua forma de liberdade. Uma vontade da sua personalidade, nascida de seu desejo e apego, só gera mais desejo, apego e controle, qualidades que não levam à liberdade.
O livre arbítrio de não se apoderar do que ocorre, aceitar fazer parte do mundo sem buscar um fruto egoísta: esta é a natureza da liberdade. Ao alcance do coração, para todos nós. Mas precisamos buscar.

Um comentário:

marcos thiele disse...

Um amigo me perguntou sobre como pode liberdade não ser fazer o que queremos fazer. Segue o comentário.
Basta uma pergunta: quem quer fazer? sempre que aparece o 'eu' aparece o desejo, controle, etc. Além disso a resposta do 'eu' está sempre no futuro (quando eu tiver minha casa na praia e não tiver que trabalhar tanto...), enquanto que a única realidade existente é o presente, daí que o único instante em que pode existir liberdade real é o (eterno) presente - onde, aliás, o 'eu' não existe.