quarta-feira, 21 de abril de 2010

mente, o órgão interno

“A mente não é a base da cognição, não tem luz própria, nem possui consciência por si mesma. É um instrumento de cognição.” (Sesha)
No ocidente nos acostumamos a designar uma série de funções e atributos com uma mesma palavra: mente. O Vedanta (assim como outras escolas orientais) designa a mente como um órgão interno chamado Antakarana, e explica em detalhes o funcionamento desta mente a partir de 4 consituintes principais.
  • Chitta: matéria mental armazenada em forma de memória.
  • Manas: atividade mental manifestada quando chitta está em movimento (pensamento).
  • Ahamkara: sentido de posse, eu-dade.
  • Budhi: reflexo da Consciência não-dual, assento da Consciência individual.
Assim como a lua brilha apenas por reflexo dos raios solares, também a mente não possui luz própria, mas adquire a condição de cognição (atenção) por reflexo da Consciência não-dual. A raiz da cognição não está na mente individual - eis aqui um grande marco de diferença para as filosofias e tradições ocidentais. A mente é apenas um instrumento de cognição, e não a raiz da mesma.
Quando existem modificações no estado natural da mente é como se agitássemos um copo de água cheio de areia: ele se torna turvo. Quando a mente alcança um estado natural de repouso é como se a areia do copo sedimentasse no fundo, e resta a água cristalina. A atividade mental de pensar (manas) é a agitação de chitta, isto é, a agitação da memória. Quando a mente entra em um estado de agitação aparece ahamkara, isto é, a sensação de posse sobre as percepções, atos, pensamentos. Se a mente está em seu estado natural não há agitação de memórias, não há pensamentos, e não surge a condição para que ahamkara apareça, isto é, não surge o famosíssimo “eu”, e budhi pode emergir.
Assim se diz que havendo conhecimento (budhi) não há eu, e havendo eu não há conhecimento! Vejam bem: a própria noção de eu é uma modificação mental, uma agitação, e havendo agitação budhi não tem condições de emergir. Assim também se diz que havendo dúvida (pensamento, agitação) não há conhecimento (budhi), mas havendo conhecimento não há dúvida!
A prática de silêncio interno busca justamente aquietar as agitações mentais. Sem a presença do “eu” uma pequena porta se abre - budhi, o reflexo da Consciência - para uma jornada eterna.
abraços 
Marcos

Um comentário:

Anônimo disse...

Se vc, então, não mente ( verbo mentir )... , teremos , enfim, a
semente.

Que bom que vc explicou tudo isso,com direi... pessoalmente.

abraço carinhoso

Ligia