quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Nosso leque de dons

No encontro do grupo de meditação de 4af na semana passada falávamos sobre atividades que nos inclinam mais naturalmente à presença, como identificá-las e fazer delas um trampolim para a presença mais frequente em nosso dia a dia.
Todos temos dons naturais - poucos, normalmente, mas temos. Durante a infância estes dons transparecem, se fazem evidentes com bastante facilidade. Entretanto nossa educação não  prioriza a capacidade de detectar e estimular estes dons na juventude. Ao contrário, estabelece moldes únicos que padronizam aquilo que se imagina que possivelmente a sociedade mais reconhecerá como modelo de sucesso. Assim nós - em nosso próprio processo de amadurecimento desde crianças - nos adaptamos, nos tornamos geralmente máquinas de esforço na busca da adaptação. No meio do caminho ‘esquecemos’ nossos dons em alguma esquina temporal. Daí é um pequeno pulo para nos tornarmos adultos que se esforçam brutalmente para chegar lá (onde mesmo?). Este esforço muitas vezes é cruel, pois com a ignorância habitual que temos sobre nós mesmos é bem possível que focalizemos o esforço em campos e naturezas de atividades que estão distantes de nossos dons. 
Quando estamos realizando uma atividade na qual somos destros esta se realiza com menor esforço. Quando desenvolvemos nossos dons naturais é muito mais simples estar em um estado de presença enquanto a ação se realiza. Assim, se podemos identificar estes dons, se podemos estimular por mais vezes ações nas quais somos destros, é mais natural que estejamos mais presentes - e mais do que isso, será mais provável nos darmos conta que estamos presentes. Daqui surge um trampolim essencial para nosso dia a dia de auto-conhecimento: a partir da compreensão limpa do que é um estado de presença, fica absolutamente claro o que não é um estado de presença! O estado de presença não é diferente conforme a atividade; a presença é sempre a presença. Aquilo que é consciente não varia, não muda. Deste modo uma vez que se tenha experimentado a consistência, o gosto, o perfume do estado de presença, não há mais dúvida: sabe-se com total clareza o que não é um estado presente no dia a dia. Como o presente sempre está existindo a cada instante, desde o nascimento até a morte, não há um momento que não requeira a presença para que seja pleno; o eixo que se ganha ao haver presença em uma ação natural (neste caso aquela que requer o uso de um de nossos dons) não se perde desde que haja simultaneamente a compreensão de se estar presente. (!!!) E isto basta para muitos e muitos anos de prática e auto-conhecimento.


abraços
marcos

Um comentário:

Carla Vieira Weisz disse...

Realmente nada é por acaso, hj voltarei ao grupo de meditação depois de um afastamento por questões pessoais e o momento da volta acontece junto com uma reflexão sobre meu dom e o que me traz significado. Descobrir e aceitar nosso verdadeiro dom muitas vezes requer uma coragem enorme para romper paradigmas (os maiores estão dentro de nós mesmos), dar o 1º passo e energia para começar e recomeçar. Este processo passa inicialmente por nossa própria aceitação como indíviduo, exigindo um retorno para a nossa essência. Este texto pra mim, representa muito e é mais um sinal. O Universo está trabalhando...

Abraços,

Carla Vieira Weisz