segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Silêncio interior

A prática interior é - talvez para a imensa maioria de nós - o único pilar que consiga representar a sensação de certeza profunda sobre algo na vida. Segundo dizem os grandes sábios o que existe em verdade, é Sat-Cit-Ananda. 
Sat (existência, ser), Cit (consciência, sabedoria e conhecimento) e Ananda (bem aventurança, amor pleno como agente de integração) existem em uma dimensão que é subjacente, que dá base à própria existência.
Como podemos ter contato com aspectos - ainda que tênues - desta realidade última?
Imersos em nossos hábitos mentais de comportamento, que puxam a cada instante de percepção infindáveis elementos comparativos de memória, é muito difícil encontrar um momento de certeza. Estes hábitos, continuamente reforçados, acabam por trazer mais e mais diferenciação, isto é, momentos em que não estamos atentos ao presente que se sucede, mas sim envoltos pelas familiares vozes mil das cadeias de pensamento e memória, julgamento e distância. Conforme o tempo passa estes hábitos se tornam mais fortes, pois cremos com toda a convicção que somos eles.
O único elemento capaz de desfazer esta trama é a atenção.  A atenção aparece por trás, antes dos próprios hábitos mentais. Ao observarmos conscientemente estes hábitos eles se tornam mais frágeis, menos senhores de nós mesmos. Ao longo de muitos anos de uma vida a prática enfraquece os hábitos e dá oportunidade para um viver consciente. Ao longo de alguns minutos de uma prática de atenção interior (meditação) a atenção aniquila imediatamente o hábito que surge na forma de um pensamento ou emoção, permitindo uma percepção daquilo que existe antes do jogo de cenas de um teatro de fantoches.
A prática do silêncio é a porta para a chance de se resvalar na certeza da existência, da consciência, da bem-aventurança.
Quieto, com o corpo e os sentidos acalmados, atento ao que se passa internamente. Atento e curioso, investigando o que afinal é isso que somos, como se expressa. Atento ao compreender que existe antes de qualquer pensamento, imerso no vazio que é pleno de movimento e vida. É possível se perceber como se flexibilizam e aos poucos se mostram ilusórias as cadeias de restrições que nos fazem imaginar que o que existe é o corpo material, este “eu”,  ou mesmo que somos “algo” independente. Atentos, quietos e profundamente mergulhados em nosso próprio campo de existência, as certezas de uma mente pensante rapidamente se mostram duvidosas, e por fim falsas, ilusórias. Aquilo que compreende, como um espaço novo que se abre em nosso próprio espaço interno, se revela como tendo estado sempre ali. A compreensão completa de não ser algo, e ainda assim a completa certeza de ser. 
Este perfume que resta de uma prática interior não pode ser expresso em conceitos compreensíveis pela mente linear, mas ele permanece vivo como uma certeza mais profunda - ainda que em um campo sutil - da trama de fluxos de existência, consciência e amor que nos compõe.
Abraços,
Marcos

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