sexta-feira, 14 de março de 2008

koans

" To see a world in a grain of sand
And a heaven in a wild flower
Hold infinity in the palm of your hand
And eternity in an hour"

William Blake: "Auguries of Innocence"

Recebi este belo poema esta semana de uma amiga, e achei que seria ótimo compartilhá-lo no blog. A ‘eternidade em uma hora’ me lembrou dos koans.
Koan... já ouviram esta palavra? Um koan é uma pergunta, uma colocação, que tem como resultado deixar nosso equipamento lógico de raciocínio ininterrupto – nossa mente - em suspenso. Suspensão, como naqueles momentos do cinema em que o herói (tipo... Indiana Jones) está fugindo dos bandidos pela selva (trilha sonora é uma orquestra em altíssimo volume e ritmo forte) e de repente cai em um precipício com um riozinho lááá embaixo. No momento em que ele começa a cair o movimento é mostrado em câmara super lenta, e a trilha sonora é apenas o som do vento. Este é um momento de suspensão.
O zen-budismo é a escola mais conhecida por fazer uso de koans.
O Koan, ao trazer uma pergunta sem lógica racional, traz a probabilidade de criação de um salto quântico em nosso labirinto linear mental. Como em um salto conseguimos enxergar além das paredes racionais de nossa memória. Por exemplo, um famoso koan é “qual o som de uma só mão batendo palmas?”. A surpresa pela pergunta sem resposta lógica pode – ainda que por um instate - deixar nossa mente em suspensão. E este é o momento mágico, em que podemos nos dar conta do que há antes da mente pensante, e que está sempre ali.
Porém o Koan mais famoso de todos os tempos é outro. A flecha deste koan é muito poderosa, mas só se torna real quando a pergunta é ouvida com total disponibilidade de coração, quando o alvo então se abre.
Este koan é curto e certeiro, não se amedronta, não se acanha, infinitamente busca seu alvo uma vez que seja lançado. “Quem é você?“. Eis aí o maior de todos os koan.
Ramana Maharshi, em sua didática exposição sobre o método de auto-inquirição, explica como esta simples pergunta pode ter efeitos devastadores sobre nosso moto-quase-contínuo de pensamento.
Especialmente quando se faz uma prática de silêncio interior esta pode ser uma linda chave. Normalmente reclamamos dos pensamentos que não param, reclamamos de como nos perseguem e grudam qual algodão doce em rosto de criança. Mas a vontade e o desejo de se livrar destes pensamentos apenas os torna mais persistentes, uma vez que estamos depositando nossa atenção neles (a atenção é o combustível vital dos pensamentos). Se neste momento pudermos nos perguntar – com verdadeira intenção e curiosidade – “quem sou eu? “, ou “quem percebe estes pensamentos?” , e e buscarmos profundamente a resposta, então haverá um instante de suspensão real. Isto ocorre porquê a atenção se volta para si mesma com o choque da não resposta imediata. Neste instante os pensamentos já não existem mais. Podem voltar se você voltar a levar sua atenção a eles. Mas também é possível que este estado de suspensao se sustente um pouquinho mais, e aí começa aparecer o gostinho de dar uma rápida lambida na mais saborosa compreensão e existência do que somos.E a cada vez que voltam os pensamentos, nos perguntamos novamente quem os percebe, e assim seguimos, e seguimos, na esperança da suspensão inesperada, do refresco de uma ducha de cachoeira inesperada após uma trilha ao sol.

3 comentários:

Lara disse...

A pergunta: O que você quer?

Também é um koan?

marcos thiele disse...

Se você fica tonta com a pergunta e não tem uma resposta associativa imediata pode ser um bom koan... talvez a pergunta "quem quer?" seja um bom koan também

Anônimo disse...

O Edward de Bono, um estudioso da criatividade, tem um conceito parecido com o koan, chamado P.O. = provocative operation. Trata-se de lançar um elemento non-sense em uma discussão para que o cérebro saia do pensamento linear e pense em novas soluções para aquele problema.