sexta-feira, 18 de abril de 2008

amsterdam

Acabo de voltar de dez dias em Amsteradm, a trabalho.
Uma viagem nunca é apenas uma viagem no sentido externo ou físico; entrar em um avião que voa a 11 km de altura, respirar um ar de outra língua, conhecer pessoas diferentes, a distância do conhecido, o desconforto e as surpresas... sempre aparecem desafios às nossas habituais certezas. Sempre acontece uma viagem interior, paralela e transversal ao concreto imaginado.
Passei um final de semana por lá, e andei muito.

Adoro andar, é a velocidade mais perfeita para a percepção do mundo. Experimente caminhar por uma rota que você normalmente faz de carro, e ficará muito evidente tudo o que perdemos ao acelerar sobre caminhos aparentemente conhecidos. Um universo de detalhes e novidades se abre aos sentidos.
Caminhei pelo Vondelpark (um central park de Amsterdam), observando e sentindo. O novo sempre traz esta curiosidade de conhecer... e daí à certeza de que o simples ato de perceber o mundo é impressionantemente vivo é um pequeno passo. Peceber que se está vivo, e que existe a chance de conhecer, que existe uma propriedade chamada atenção que me permite conhecer, e que ela é intrínseca à própria consciência... perceber que a atenção flui, e que às vezes algo parece tão próximo de você que você já não sabe diferenciar o que percebe de você mesmo... é algo incrível. E está sempre aí, em qualquer e toda parte do mundo, sempre à nossa disposição.

Fui ao Rijksmuseum, e ali passeei pela história da Holanda. Não consegui apreciar a beleza das pinturas, pois acabei afogado no fogueira das vaidades. Impressionante como o ser humano, era após era, cai nas mesmas armadilhas dos desejos do olimpo sonhado do egoísmo. As sempre iguais medalhas de ouro do ilusório pódio das conquistas individuais. Um grande almirante e seu busto em mármore, a petrificação do orgulho. Um trio de ricos comerciantes semi-eternizados em uma tela, tintas lindas perfeitamente retratam os olhares empapados de ilusão e arrogância. Uma época após outra, uma guerra após outra, uma fortuna após outra, uma miséia após outra, tudo o que buscamos é petrificar a ilusão de que somos nós que atuamos e decidimos, erigir um busto do granito nascido da ambição do fruto de nossas ações, pintar um quadro magnífico da nossa absoluta ignorância sobre quem somos. Isto é a raiz do Samsara, a eterna roda do Karma.

2 comentários:

Anônimo disse...

andando, vendo e sentindo...

Também gosto, acho que é uma forma de nos aproximarmos do mundo. Só que a aproximação as vezes é sofrida, dependendo de onde se anda ou do que se vê. Me parece que o caminho não é uma busca simplista por uma sintonia com um mundo de paz e harmonia, em um sentido humano. Seria mais uma compreensão ou, menos pretensiosamente, uma aceitação do mundo como ele é, com sua forma peculiar de beleza. Nesta forma peculiar de beleza, que inclui não só (mas também) a dor e o sofrimento, o asfalto e a sujeira, talvez haja um outro nível de paz e harmonia.

Lara disse...

Samsara, palavra nova para mim, fui atrás, a Lu traduziu como turbilhão, a Wikipedia lançou a idéia de perambulação, fluxo incessante de renascimentos através dos mundos. Muita viagem para mim.
De qualquer forma, pareceu ampliar conceitos, de alguma forma explicou o que para mim, às vezes, é inexplicável, reações, decisões, ações.
Obrigada, gostei do aumento de repertório.