quarta-feira, 19 de maio de 2010

Qual a nossa batalha?

A idéia por vezes subliminar de que os obstáculos a enfrentar assim como as causas de nossas dificuldades são eventos, circunstâncias e fatores externos a nós mesmos é uma grande ilusão em regime moto-contínuo.
De um modo muito simplista pode-se dizer que não existe uma “causa” externa para um problema que enfrentamos, a causa vem de uma raiz bastante mais ancestral, vêm de tendências de probabilidade acumuladas ao longo de muitos e muitos ciclos. Estas tendências são chamadas samskaras: são a concretização - no sentido causal – da produção infindável de desejos, intenções, hábitos repisados, ou seja, do karma. A partir da integração de todas estas tendências se produz a situação – individual e coletiva – de um novo ciclo. Segundo o Vedanta é esta situação que se concretiza a cada instante como o Presente (!!!) em nossas vidas. Ilusoriamente simples.

De novo: o Presente nada mais é que a expressão perfeita de seu caminho – ou Dharma! A não aceitação e participação integral no presente gera mais e mais tendências de probabilidade e assim a roda quase infinita de mortes e renascimentos permanece girando.
Conclusão: a única forma de (1) deixar de gerar novas tendências – karma, e (2) compreender, viver e percorrer seu Dharma, é viver no Presente.
Seria o equivalente a dizer que o Presente sempre é perfeito, em um tom mais emocional. Sob este ponto de vista fica evidente a ilusão de se colocar no ambiente, no mundo, na família, no vizinho, no marido, a “culpa” pelo que vivemos. É simplesmente falso. O obstáculo real nunca é externo. Ao final o único obstáculo real é a aceitação da plenitude no presente.
Cada instante do Presente representa a soma de infinitas correntes de probabilidade que se concretizam neste momento específico; na visão do indivíduo a trilha da soma destes instantes é a concretização das condições causadas por tendências anteriormente criadas; oculta em cada um dos passos desta trilha está a possibilidade de realização maior do indivíduo, seu Dharma. A chave: reagir com todos os seus sistemas disponíveis (mente, prana, corpo) apenas ao presente que se sucede a cada passo.
Boa sorte!
abraços
marcos

5 comentários:

Anônimo disse...

Marcos,
Quando alguém rejeita algo que lhe é dado chamos esse ato de falta de educação.
Mas, com seu texto vejo que fazemos isso a todo momento. Infinitamente. Falta muito mais grave.
Grande batalha a ser conquistada passo a passo. Precisarei da boa sorte desejada.

Aceitar o presente. O obvio ganha ares de tarefa inalcançavel.
Vale o esforço, por esta, e por muitas vidas.
Obrigada.
Ligia

NerySantos disse...

Marcos,

Tenho tido a felicidade de refletir sobre os textos publicados diretamente da minha mesa de trabalho e em momentos ao longo de um dia bastante tumultuados.

E esse texto traz uma reflexão interessante sobre como chegamos aonde estamos hoje e como todas as probabilidades e ações em que estive envolvida me fizeram chegar nesse ponto.

Fica uma marca muito forte do seguinte trecho:
"O único obstáculo real é a aceitação da plenitude no presente."

Obrigada,
Andréa

Manu disse...

Um site global não comercial, exclusivamente para os artigos relacionados à Nisargadatta Maharaj. Livros, fotos, vídeos e outros.
http://nisargadatta.co.cc/

Manu Namasivayam

Anônimo disse...

Amigo,
Nossos encontros de 4a. tem sido cada vez mais especiais. Essa semana foi maravilhoso. Tudo vai fazendo sentido.
Então, me deparei com algo que gostaria de compartilhar.
A Lygia Fagundes Telles escreveu" Fui ao mar me confessar. E o que ele disse? Nada"
Frente ao chamado do presente temos opções. O vazio da fuga ou o imperativo do verbo. Escolho nadar.
Mas a batalha continua, tentando escutar o chamado do presente e não nadar sem rumo, sem precisão, sem começo ou fim. Nadar quando o presente diz: nada.
Dificil batalha.
Ligia

marcos thiele disse...

Obrigado pelos comentários, Ligia e Andrea. Especialmente porque tem a capacidade de instigar outros a buscar. Não fazemos idéia de como nossa própria experiência pessoal pode ser relevante para outros.
abraços