quarta-feira, 21 de julho de 2010

As pulgas, o fantoche e a prática interna

Quando uma inquietação sobre si mesmo e sobre a realidade começa a aparecer no horizonte de uma pessoa muitas dúvidas aparecem, e também muitas oportunidades de aprendizagem. Neste tipo de situação alguns tem a sorte de encontrar pistas, traços de compreensão que ecoam em seu próprio coração. Quando estas pistas tem origem em uma tradição viva de realização (que tenha pessoas realizadas através deste caminho ensinando) há a possibilidade de uma nova trilha de busca se abrir. E esta trilha é ao mesmo tempo maravilhosa, angustiante, paradoxal.
No caso do Vedanta Advaita, plantam-se “pulgas atrás das orelhas”, uma após outra,  após outra, após outra. É como um vírus de busca da compreensão que, uma vez instalado, começa a agir subvertendo a ordem aparente que a realidade até então claramente apresentava. E o mais divertido é que o indíviduo que tem as dúvidas é justamente aquele que subsiste apenas através da ilusão do pensar-se. Daí se segue uma miríade de armadilhas montadas pelo fantoche que tenta reafirmar a certeza de sua existência real. Então... o Vedanta Advaita explica o teatro, o palco, as cordas e o fantoche (a ilusão da realidade), a um sistema consciente (uma pessoa) que inclui a própria idéia de identidade do fantoche. E este último inicia um processo quase interminável de contraposições racionais e truques mentais para se reafirmar existente.
Que paradoxo! Como seguir?
A resposta não é mental ou linear. A única forma comprovada de se dar conta de tudo isso é a prática. Em especial a prática interna é capaz de desvendar as mais sutis armadilhas engendradas pelo fantoche.
O Vedanta propõe uma prática interna sem qualquer tipo de bengala. A prática interna consiste, de modo simples, em desconectar os sentidos e trazer a atenção para aquilo que ocorre internamente. Ao observar com distância os pensamentos/emoções, aos poucos estes próprios perdem intensidade, e aumenta a intensidade da presença daquilo que observa. Conforme a atenção se fortalece na própria presença deste observador o silêncio se aprofunda, e novas trilhas de percepção e consciência se abrem. 
Não existe caminho de compreensão da realidade que se baseie apenas em conhecimento teórico; a experiência é que tem, de fato, validade. Um “eu” que pensa  pode passar vidas no labirinto das dúvidas teóricas. Assim, todas as pulgas atrás da orelha, ao final, são esclarecidas pela prática. 
Just do it.
abraços
marcos

3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei e com um detalhe, ando com tantas pulgas atrás da orelha...
Beijos e saudades de você...

Vanessa Lobato

Rodrigo Barros disse...

Thiele,
Muito bom !! A analogia com o Teatro é perfeita. Acho que a idéia é não pense sobre praticar, pratique !! Pois se você pensar, "você" mesmo irá sabotar a tentativa de praticar.

Seguimos juntos !!
Abraço.

Anônimo disse...

Marcos!
Vc sabe bem do meu amor pelos animais. Cada vez que recebemos a visita daquela gatinha que batizei de Mel, tenho dificuldades em me concentrar novamente que fico encantada com ela.
Agora... as pulgas...
Novos "animais" para serem amados, observados e cuidados.
Obrigada e até breve.
Volto assim que conseguir voltar à rotina.
com carinho,
Ligia