quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Realidade e Ilusão

Estava outro dia conversando com um grupo sobre a realidade, e como saber se estamos presentes. Fora algumas pessoas que me olhavam com a certeza de que eu era absolutamente louco o grupo caiu naquele espaço da dúvida sincera em que há um leve chacoalho nas premissas do modo habitual de percepção da realidade. 
Parece algo muito simples à primeira vista... mas a questão é justamente esta primeira vista. É como se resvalássemos na realidade (esta ‘primeira vista’) e assim que a atenção traz as primeiras informações do que é observado voltamos a atenção para a memória, buscando uma definição anteriormente registrada, e, quando a encontramos, nos satisfazemos com o registro passado que define e restringe a realidade que se apresenta.  A partir deste ponto a realidade morre, e nos relacionamos com nossa própria memória. 
Se mantivéssemos a primeira vista por mais tempo, isto é, se mantivéssemos a atenção na realidade, sem trazê-la de volta para a memória, começaríamos a perceber e observar o mundo, o objeto, que se apresenta naquele instante - sem nome, sem registro anterior reducionista.
As coisas são realmente aquilo que são quando quem observa não é diferente daquilo que é observado, diz Sesha.
Nos aproximamos da realidade quando não pensamos sobre ela, isto é, quando não a interpretamos e reduzimos. Experimente observar atentamente a folha de uma árvore. Por um longo, longo instante, observe cada detalhe, sem trazer a atenção à memória para resgatar a palavra “folha”. Esta palavra “folha” começa a perder o significado, soa até estranha, conforme a atenção permanece focalizada no objeto real. Aquilo que é observado é muito diferente, maior e mais concreto do que a palavra pode definir. E a relação que se dá entre aquilo que observa e aquilo que é observado também muda.  Segundo o Vedanta não existe um observador (o eu), onde reside a consciência e a capacidade de atender algo, e um objeto percebido (o mundo). O próprio campo de cognição eu+folha é consciente em si mesmo. É isto que se começa a perceber em um estado de presença mais intenso. Entretanto, no dia a dia habitual, o filtro criado pela sensação de identidade egóica da mente (ahamkara) gera a ilusão (maya) de separação, e assim nos habituamos a crer que ‘eu’ sou consciente e observo um mundo diferente de mim.
Toda vez que nos relacionamos com uma interpretação daquilo que existe de fato nos relacionamos apenas com nossas próprias criações, e este que se relaciona deste modo é o ‘eu’ personalístico com sua história e hábitos. A este sujeito - este ‘eu’- não lhe é permitido conhecer a realidade. Quando se conhece a realidade - Presente - não há um ‘eu’ que se reconheça consciente, o próprio sistema se reconhece consciente. Assim é o limiar da não dualidade, a aurora da única liberdade real.


abraços
marcos

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