No último encontro do grupo de meditação fizemos uma prática bem divertida (pelo menos eu achei...) de atenção externa. Algo como escolher um objeto e mergulhar nele por 20 minutos. Até, quem sabe, poder realmente descansar no objeto.
Como sabemos “as coisas são o que realmente são quando quem observa não é diferente do que é observado”. Hoje lia um livreto de quadrinhos zen antes de uma reunião em um belo escritório, e uma das tirinhas dizia algo como: a flor é uma flor quando quem a observa é uma flor. É o mesmo. Quando a atenção pousa sem esforço na realidade os pensamentos e interpretações cessam, e a permanência da atenção no presente leva a um estado em que a relevância do observador gradualmente diminui, e prepondera o objeto (a realidade). Até que já não há alguém que observa algo, apenas o algo - apenas o presente e a realidade que se apresenta naquele instante. Há presença e consciência na realidade viva, sem a presença de alguém que se diga consciente de uma realidade viva.
Segundo o Vedanta Advaita a realidade não-dual é o que realmente existe; por conta de limitantes da mente nos habituamos a velar (a realidade não-dual) e projetar (uma realidade não real), a isto se chama maya. Um dos fatores limitantes, conforme explicado por Ivan, é o limitante espacial.
A ver: podemos observar um objeto (externo ou interno) de duas formas, totalizando-o - nos perdendo no objeto - ou particularizando-o - ou seja, nos distanciando do objeto. Normalmente, quando estamos no dia a dia, nós, por hábito, nos distanciamos da realidade apresentada (através de pensamentos, interpretações, etc.). Por outro lado, quando estamos buscando a quietude interna nós, por hábito, mergulhamos em nossos pensamentos e fantasias. Pois o que devemos fazer é justamente o oposto! Quando ativos no mundo devemos nos totalizar com o mundo, de modo que os objetos ganhem relevância, e não o sujeito que observa. Quando quietos internamente devemos nos distanciar do que se apresenta, ou seja, particularizar os pensamentos e emoções de modo que o observador ganhe relevância, e não os objetos.
Até parece algo técnico, frio... mas a prática mostra que é bem longe disso a experiência real.
Experimentar, dia sim dia também, esta postura atenta pode mostrar novas trilhas, até, quem sabe, conseguirmos aprender a descansar na realidade que se apresenta para nós a cada instante.
abraços
marcos