terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mestre e amizade

Deixei Ivan no aeroporto hoje de manhã. Uns poucos dias, mas para mim meses. Como será possível expressar a riqueza desta visita, a boa sorte de poder passar horas e dias na presença simples e plena de uma pessoa que realiza o que é a Realidade, a inescrutável sensação de alegria e responsabilidade de ter esta verdadeira amizade.
Em uma de nossas conversas desta semana Ivan me explicava (já que eu não parava de fazer perguntas...) os diferentes tipos de professores: Gurus, no sentido original, cuidam de seus discípulos como pais cuidam de filhos, de modo mais paternalista; já um Rishi (que já não existe hoje em dia) acolhia uma criança em sua casa, como se fosso de sua família, e lhe ensinava até ficar mais velho, quando então este saía para o mundo. Por fim existem os Nagas, mestres que fundamentam sua relação com os discípulos através da amizade profunda, da disponibilidade de estar ali para ensinar. É esta a qualidade de mestre de Ivan, um Naga, como todos que estiveram no Instituto este final de semana puderam presenciar nas palestras, na proximidade das conversas durante os cafés, na alegria de estar ali para ensinar.
Uma outra característica de um Naga é que o discípulo normalmente desenvolve um certo grau de independência em suas pesquisas e caminho (o que não é usual no caso de Gurus). Por conta disso é tão bem encaixado o papel do Naga na tradição Vedanta Advaita, uma tradição que através da curiosidade e das indagações leva os discípulos a uma natural postura de auto-indagação, e assim os leva a construir com seus próprios pés seus caminhos.
Ivan deixa uma série de sementes. Quanto a mim, uma série delas percebo, muitas outras apenas intuo.  Ainda há outras que são apenas a sensação de que algum aprendizado ocorreu, embora eu não saiba bem como, nem em que esfera. Como quando passamos um par de horas conversando em uma chopperia à tarde, e em um certo momento em que a conversa fluiu de modo profundo, como um avião que faz uma espiral descendente depois de alguns círculos de aproximação,  minha mente não se movia, não tinha para onde ir, apenas se misturava às informações que fluiam. Um sentido muito real e brutal se fazia aparecer através de ecos distantes em minha mente enquanto continuávamos sentados, embora um universo inteiro parecesse ter se movido. Assim é a alegria e a responsabilidade de conviver com Ivan.
Agora seguiremos com nossos próprios pés e pernas, nossa prática, nossas conversas. Seguimos com maior energia, maior curiosidade, talvez mais dúvidas, talvez menos certezas, e certamente com mais alegria.
abraços
marcos

Um comentário:

Mila Thiele disse...

Agradecimento - esta é a sensação que ainda permanece, já três dias após os encontros com Ivan. Agradecimento por terem trazido e por terem dado a oportunidade de estarmos presentes ali.

Certamente ficaram sementes e muitas questões, e ainda muita curiosidade, vontade de experimentar as mesmas coisas faladas por Ivan. Se vai ser possível? ah, isso não se sabe.

Explicar o que e como foi isso tudo é como tentar explicar - com palavras - como pintar a quem nunca viu um pincel. Impossível que se capte a experiência em si! É preciso praticar pra saber, foi preciso ter estado lá pra saber.
Obrigada, Marcos e Eloi!
Beijos,
Mila