quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Ramana, e quem sou eu afinal?

Ramana Maharshi propunha aos que o procuravam um método aparantemente muito simples de prática na busca do auto-conhecimento, chamado de método da auto-inquirição. Este método, basicamente, se resumia na prática de atenção interna através de uma pergunta raiz: quem sou eu?
No mundo interno existem várias formas de seguir o perfume do presente, e cabe a cada um encontrar aquela mais apropriada ao seu próprio sistema mental e nervoso. Uma das formas é esta proposta por Ramana, que, no entanto, é muitas vezes mal interpretada por nós.
Existem basicamente duas maneiras de se fazer esta pergunta a si mesmo. Na primeira a pergunta é feita de forma, digamos, leviana, corriqueira, como quem pergunta sobre o tempo. Feita desta maneira isto será simplesmente o início de um processo interminável de pensamentos enadeados. Quem sou eu? eu mesmo, ora... e quem sou este eu mesmo? eu... e assim vai ladeira abaixo, uma diversão para a personalidade, uma distração total do que pode ser o presente neste momento. Nesta altura estamos totalmente imersos em pensamentos sobre o tema, o que, como sabemos, não tem validade por ser um estado não associado ao presente.
A segunda forma, é aquela em que toda a atenção, com um grau de curiosidade absoluta,  está servindo como mola propulsora da pergunta ‘quem sou eu?’; ao formulá-la há uma genuína intenção de esperar uma resposta. É o mesmo tipo de foco de atenção que existe quando você aposta na mega sena, e ouve as dezenas sorteadas; imagine que você já acertou cinco, e a sexta vai ser anunciada... onde está sua atenção? divagando dobre o fim de semana, ou sobre a mágoa com a irmã, ou sobre ... claro que não, a atenção está 100% voltada ao instante presente, aguardando a sexta dezena! É este grau de atenção que é necessário para se esperar a resposta de uma pergunta do quilate de ‘quem sou eu’.  Surge então, no momento em que a questão se propõe, um estado de surpresa com a própria questão colocada. A mente linear, sem encontrar resposta dialética (por comparação com conteúdos prévios armazenados na memória) se vê por um instante paralisada. Manas (a atividade mental) estaciona subitamente, como um máquina engripada por uma corrente quebrada. Permanecendo aí, com atenção  firmemente postada no observador que percebe o vazio de respostas, pode nos ser oferecida a probabildiade de dilatação do vazio e do silêncio. Com a mente quieta, por pouquíssimos instantes, é possível que budhi se faça aparente. Este é o princípio do processo de silêncio, quiçá da meditação. 


abraços
marcos

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