segunda-feira, 4 de abril de 2011

É só mais um pensamento...

No último encontro do grupo de meditação das 2af’s  falávamos sobre a prática de atenção e experimentávamos exercícios divertidos para que nos déssemos conta da frequência dos pensamentos. Experimente este:
Encontre um espaço mais ou menos amplo (5 a 10 metros de espaço livre), e se coloque em um dos cantos. Agora comece a caminhar. Quando perceber que um pensamento cruzou sua cabeça, volte ao ponto inicial. Mas há que se ter uma atenção fina, qualquer pensamento, mesmo sutil, deve levá-lo de volta à posição original. Se alguém conseguir chegar ao outro lado e ainda assim não pensar “consegui!!” por favor me escreva...
Esta pequena brincadeira mostra a frequência exaustiva da agitação mental. Mostra também que, de fato, não controlamos o (não) surgimento, a natureza, a origem, ou a direção dos pensamentos. Somos simplesmente servos de nossa própria habitualidade.
Ao pensarmos estabelecemos um quadro de referência sobre o que somos, nos entendemos como algo, definido e concreto. Esta primeira idéia, esta separação, é o início do ciclo do ser que se acredita independente, ator, merecedor. Se acredita evoluindo, se aperfeiçoando. Este ser pensado não vai a lugar algum, apenas gera mais e mais tendências.
O agente real que é consciente da realidade quando se está presente não é este eu-que-pensa, este eu-pensado. O eu-pensado, de verdade, morre a cada instante de silêncio e presença. Porém renasce a cada agitação mental, a cada pensamento. Com este inseparável zumbi vivo-morto compartilhamos a existência.
Assim, uma dos maiores antídotos à não-presença é uma simples frase: “É só mais um pensamento...”. Quando você estiver mergulhado na mais profunda certeza de que merece sofrer, ou quando estiver no mais alto degrau do pódio do orgulho, e estiver pensando e falando algo para si mesmo, lembre-se disso: é só mais um pensamento. Quando você estiver furioso com o chefe no trabalho, e voltando para casa estiver pensando em como ele não presta, ou quando alguma mágoa de muitos anos atrás teima em voltar à tona, lembre-se: é só mais um pensamento. E quando, no meio de uma prática de silêncio interior, após algumas dezenas de minutos, você se percebe sutilmente desejando algo, ou quando, após algumas dezenas de anos de prática, você se percebe sutilmente esperando algo, lembre-se: ”É só  mais um pensamento...”.
A realidade está aqui, agora, já. Qualquer narrativa do eu-pensado apenas nos afasta dela. Sem mais ou menos.


Abraços,
Marcos

Um comentário:

jaqueline disse...

Querido Marcos, lendo seus textos, as lembranças dos tempos da Alquimia surgiram. Parabéns pela clareza e verdade com que escreves. Grande abraço...de verdade não só em pensamentos!!