segunda-feira, 11 de abril de 2011

Pegada kármica

Neste dias de aquecimento global e pegada ecológica não custa refletir um pocuo sobre os fundamentos da sociedade atual, que afinal gerou esta situação concreta. 
Vivemos um tempo de ter. Ter, em si mesmo, é indiferente; não se trata de uma discussão moral sobre a posse. O problema está no apego, no processo que leva à posse, nas condições de um “eu” cria uma imensa “pegada karmica” em cada trilha destas.
Estas trilhas de construção da posse são encharcadas de um “eu” que deseja, que se crê merecedor das ações. Este “eu” acredita ser um agente independente que controla seu caminho, sofre com ele, e merece alcançar a posse do que quer que seja.
Quando existe desejo em uma ação, quando um sujeito se considera merecedor do fruto de uma ação que realiza, enfim, quando há um sentido implícito de “eu” na ação, se constróem e fortalecem tendências. Isto é o que também se chama karma. Assim, em uma trilha de vida podemos gerar uma imensa “pegada kármica”, que, infelizmente, não pode ser compensada com a plantação de árvores espirituais.
O que quer que seja que temporariamente possuímos (material ou idealmente) é apenas resultado de todas as tendências construídas anteriormente, e não tem valor em si. 
A nossa relação com cada um destes objetos de posse e desejo (materiais ou ideais) é que determina a construção destas tendências.
Esta pegada kármica será acrescida ao imenso estoque que já temos guardado, e assim partiremos para mais e mais um giro da roda de samsara.
Podemos assim imaginar como nossas vidas, e as de nossas redes de contato e relações, são unidades de produção contínua de uma imensa pegada kármica.
Será possível viver com uma pegada kármica zero?
Sim. É necessário que cada indivíduo seja consciente de cada um de seus atos e pensamentos, de modo que suas ações sejam uma resposta espontânea à realidade. 
É condição prévia para isto que estar aqui e agora, presentes. 
É condição pévia para isto reconhecer as próprias armadilhas e gatilhos para não se ver servo de suas próprias criações psicológicas. 
É condição prévia para isto a auto-observação contínua. 
É condição prévia para isto a disciplina da prática. 
É condição prévia para isto a inquietação acerca da vida em si. 
Aos inquietos fica então o convite de experimentar a liberdade em vida. 


Abraços,
Marcos

2 comentários:

Ju ramalho disse...

Marcos, eh interessante ler e reler seus textos. Acabo de voltar de uma viagem de ferias onde procurei muitos momentos de "tudo bem" (como se isso nao pudesse ser um estado constante) e procurei nao gerar "pegadas karmicas". Como acho que falhei em estar verdadeiramente presente, fico feliz em ler o texto "trabalho e espiritualidade"... Nao sera em 20 minutos de break ou 2 semanas de ferias que vivenciarei o presente se eu nao puder faze-lo em qquer outro instante. Obrigada.

marcos thiele disse...

Oi Juliana, fico feliz que eles - os textos - de algum modo possam ser de benefício! Boa a reflexão que você trouxe.
bjs