segunda-feira, 18 de abril de 2011

Se não puder fazer mais nada

Se diz que determinados ensinamentos ou caminhos de auto-conhecimento requerem um certa natureza de aprendiz ou de discípulo. Discernir sobre quem é você enquanto discípulo, e qual é o possível caminho é uma das questões mais difícieis para muitos de nós. O Baghavad Gita tem em seu início a apresentação de Arjuna como o disípulo perfeito, e assim “basta” ouvir atentamente os ensinamentos de Krishna para que a compreensão perfeita se faça. Nós, naturalmente, não somos este discípulo perfeito - no sentido de já termos nossas tendências kármicas convergindo para criar a probabilidade de alcançar esta compreensão. Nem por isso devemos sentar e esperar algum tipo de graça divina. 
Muitas vezes nos deparamos com textos, ou falas, que já ouvimos e vimos muitas vezes, mas só naquele preciso instante fazem sentido. O Vedanta Advaita é um destes caminhos de auto-conhecimento que por vezes parece ser absolutamente incompreensível (de tão simples...) mas, com uma boa dose de perseverança, é possível que alguns dos ensinamentos façam sentido em algum momento de nossas trilhas. Em algum momento  uma ficha cai, uma experiência real de presença é percebida conscientemente, e isto bastará como combustível para muitos e muitos momentos de prática, reflexão e estudo. Um só momento de presença inocula no sistema egóico o vírus da dúvida sobre a construção da realidade dual que mantemos com um pensar incessante, um destes momentos é suficiente para abalar os pilares desta imensa construção.
Assim se você não puder investir tempo algumas vezes por semana em uma prática de atenção interna, se você não puder ler alguns dos textos maravilhosos à disposição, se você não puder dedicar um tempo de reflexão consciente sobre sua realidade, então, se nada disso for possível neste momento de sua vida, faça apenas uma coisa: busque estar aqui e agora quando se lembrar disto. A intenção honesta de se lembrar disto será suficiente para que, em algum minuto das próximas semanas, esta situação ocorra. E quando ocorrer, apenas fique ali, fazendo o que quer que seja que o momento peça. Depois, o fluxo de pensamentos voltará, e se apropriará da sensação da presença através da memória, mas isto já não importa.
Se você não puder fazer mais nada, apenas busque sentir o perfume da presença em algum instante da sua vida. 


Abraços,
Marcos

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