segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ação no mundo

Diz Sesha: o que vale não é a ação que se realiza, mas a compreensão que se tem daquilo que se faz no momento em que se executa a ação. Nós temos a capacidade de realizar, compreender e não nos identificarmos com a ação.
No mundo ocidental, por outro lado, prezamos e medimos a ação pelo valor econômico, pelo gosto, pela utilidade, enfim, pelo resultado alcançado. Nascida do desejo, assim que este se realiza  esta ação logo será seguida por outras e mais outras na interminável voraciadade de identidades egóicas perdidas em teias de desejos e inseguranças. 
Vejamos com mais detalhes a visão Vedanta sobre a ação. Existem quatro naturezas de ação:
1. Omissão: havendo responsabilidade não se executa a ação
2. Ação indentificada: ação executada com apetência de fruto
3. Ação reta: não há identificação com a ação realizada
4. Não ação: se é livre de toda ação 
Nas duas primeiras formas de agir estão as raízes da geração de karma: tanto a omissão quanto a ação identificada tem em sua gênese a figura de um sujeito chamado “eu” que deseja um resultado ou se sente agente controlador da ação (ou da falta dela). Esta figura  que deseja cria um nexo com a ação (ou falta dela) realizada e todas as consequências deste ato esparramadas nos longínquos futuros. 
Entretanto, entre as duas primeiras formas, é preferível o agir à inação, pois quando se age sempre há o benefício do aprendizado com a experiência. Nossas vidas exigem ação, exigem movimento a todo instante. Fugir desta responsabilidade é a forma mais infantil de encarar os caminhos do auto-conhecimento. 
Com o tempo é possível aprender: com a dor, com a experiência, com a reflexão sobre o que se passou, se desenvolve uma crescente compreensão.  Aprendemos sobre os meandros do egoísmo e começa a emergir maior clareza sobre a natureza do agir e as fontes sutis do desejo.
Desta forma começa a ser possível experimentar a terceira forma de ação, chamada  ação reta, aquela que é realizada sem desejo de resultado pela ação efetuada, e sem identificação com a realização da ação (isto é, não há um sujeito que se ache fazedor da ação). Esta forma de ação  pode ser vista como o verdadeiro sacrifício: todo trabalho e toda a ação são convertidos em sagrados pelo simples fato de estarem ocorrendo em nossas vidas; é o instante presente que nos chama a atuar, e este atuar deve ser levado a cabo integralmente. Esta forma de ação gera uma espontânea exaltação.
A busca constante e a prática da ação reta leva ao desenvolvimento do discernimento.
Quando há discernimento há compreensão no instante mesmo em que se dá a ação; de modo instantâneo há compreensão pois “a ação não é diferente da inteligência que a provê”. 
Conforme seu próprio caminho determinar, ao indivíduo que amadurece pode ser inclusive aberta a possibilidade de viver com absoluto discernimento. Com este grau de compreensão, para este iluminado, há inclusive a liberdade da não ação.


Abraços,
Marcos

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