segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Eu quem mesmo?

Dentre todos os paradoxos que a visão filosófica ocidental  provoca ao pesquisarmos a realidade a indagação do eu parece ser a mais facilmente observável, e, assim, mais direto ponto de partida para aqueles que se aventuram no auto-conhecimento.
Quem, afinal, é o sujeito que vive, que age, que presencia a realidade?
Experimente perguntar-se esta questão. Naturalmente a resposta será “eu, oras”. Que  eu? Ué, eu, fulano de tal, com tantos anos, formado nisto e naquilo, filho de fulano e pai de sicrano, etc. Porém, seguindo nas indagações, pergunte-se agora quem é este “eu” e tente responder sem qualquer atributo histórico. Experimente.
O que se passa? Uma estranha sensação de observar-se a si mesmo... tavez algo como um espelho paralelo a outro.
Continue a indagar, honestamente... o que é este eu? Percebe o silêncio que se abre? Esta sensação de algo consciente, que existe, mas  sem denominação?
Isto, que sempre esteve aí, que a si mesmo não se indaga, que é consciente sem pensar, que compreende sem raciocínio, é o que realmente existe.
Isto não tem identidade com o “eu” histórico que só existe quando é pensado.
A falta de história nos traz ao instante presente!
Porém a inérica da falta de presença nos carrega para a história conduzida nos meandros do pensamento, memória agitada e repensada na forma de passado ou na forma de futuro. Quando imersos na memória milhares de dúvidas nos assaltam sobre nossa natureza, o que somos realmente, etc. Este é o playground do “eu”. 
Quando vivos no instante presente não surgem dúvidas, o “eu” não faz parte desta dimensão de existência, muito mais próxima da realidade. Não se trata de uma “evolução do eu”, é simplesmente um estado de consciência mais presente; a idéia da evolução espiritual do “eu” é uma grande armadilha que simplesmente tem o efeito de fortalecer a própria identidade egóica. Não existe meio termo: quando se está presente não há um “eu” que se sinta feliz por estar presente e não estar mais perdido em pensamentos... se há algo desta natureza ocorrendo são simplesmente pensamentos mais bonitinhos.
Nós somos criações momentâneas que existem enquanto pensamos sobre elas; criaturas cujo cordão umbelical é construído a cada fluxo de pensamento que nos sustenta,  nos ilude fazendo crer que somos contínuos no tempo histórico. Nos instantes em que estamos presentes este cordão é cortado instantaneamente, estas criações não existem. Para comprovar isto basta refazer o exercício proposto acima. É simples. 
A indagação do eu pode abrir possibilidades de compreensão profundas se buscamos praticar de forma honesta  e curiosa.


(Para os interessados na indagação do eu por favor vejam ao lado o link para o site que contém ensinamentos de Ramana Maharshi)



Abraços,
Marcos

Nenhum comentário: