segunda-feira, 23 de maio de 2011

Discípulo

Discípulo é uma palavra raramente utilizada nos discursos que habitualmente proferimos a nós mesmos quando desenhamos nossos planos de futuro e crescimento na vida.
Porém talvez seja uma das poucas palavras que certamente deveria ser parte integrante de todos os cenários que desenhamos para nossos poucos dias por aqui.
Afinal, qual de nós já está auto-suficiente em seu próprio pedestal de conhecimento e sabedoria? Se há hipótese de sabedoria há certeza de ignorância. Basta olhar em volta, para fora ou para dentro, e só o que vemos são inumeráveis mistérios que pedem para ser revelados.
Assim a trilha de conhecimento, em especial a de auto-conhecimento - ainda que por princípio solitária - é uma trilha de discipulado, uma caminhada com companheiros que já conseguiram enxergar um pouco mais longe do que nós. Se não é este um caminho que vale a pena buscar, qual seria? Chegar a ser um discípulo é uma honra, ter a chance de investigar e compreender é uma dádiva. Já encontrar um mestre... é provavelmente resultado de muitas buscas anteriores.
O que faz um discípulo? O Vedanta detalha cuidadosamente as qualidades de um discípulo (adaptado de Vedanta Advaita: não-dualidade, estados de consciência, prática meditativa e , cosmologia Vedanta; Sesha):
- Viveka: discernimento ou discriminação metafísica
- Vairagya: desapego mental dos objetos
- Satsampatti (seis tesouros):
     - Sama: controle da mente 
     - Dama: controle dos sentidos
     - Uparati: habitualidade de controle da mente dos sentidos 
     - Titiksa: fortalecimento ante os pares de opostos 
     - Samadhana: presença constante
     - Sraddha: fé no mestre e nos seus ensinamentos
- Mumuksutva: ardente desejo de liberação 
A nós nos interessam as duas primeiras qualidades, que são a base de construção deste edifício do discípulo. 
O florescer das seis qualidades tem como pré-condição uma mente quieta, o que ocorre com o desenvolvimento do discernimento e do desapego. E tentar compreender com nossa pobre mente personalística, por exemplo, o que é o desejo ardente de liberação não passa de uma “viagem na maionese emocional” sem que tenhamos nosso discernimento amadurecido.
Portanto para nós é crítico buscar compreender o que é Viveka, o discernimento, que implica saber distinguir entre o que é o Real e o que é o ilusório, uma profunda compreensão interior que nos leva a agir sem dúvidas. Bem simples...  Uma pista: tanto a compreensão quanto o Real só existem no instante presente (!!).
Buscar renunciar ao mundo, à ação, sem ter o disernimento apropriado é um grande engano. Ivan explica: “Vairagya é a renúncia mental aos objetos de sensação; é impossível  renunciar ao que não se conhece. A renúncia não leva ao conhecimento... é o conhecimento que leva à renúncia. A obtenção de discernimento induz, de maneira espontânea, uma forma de ver o mundo sem apego.”
O Vedanta como linha de pesquisa é em si mesmo um paradoxo: para realmente compreender seus ensinamentos é necessário um discernimento estabelecido e fino; porém aquele que possui este discernimento já não precisa dos ensinamentos... Assim ficamos nós com a missão de, mesmo sem compreender profundamente os ensinamentos, buscar o amadurecer do discernimento. Por quê? 
Aguardo suas respostas...


Abraços,
Marcos

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