quarta-feira, 16 de junho de 2010

Neti Neti

Minhas roupas eu não sou, afinal posso descartá-las e continuo existindo.
Minha família e meus amigos eu não sou, sigo existindo e consciente de mim sem a presença deles.
Minha mão, meu braço eu não sou, mesmo em um exercício teórico sigo consciente de mim mesmo sem estas “peças”.
O corpo denso é apenas um animalzinho vivo, parte de um sistema energético que parece ser próprio. Em silêncio um pouco mais profundo se reconhece esta massa que respira e se mantém vital. E se reconhece com estranheza que “eu” não sou esse corpo. Tenho consciência que ele existe, mas compreendo que não sou idêntico ou limitado a ele. 
Minha história eu não sou, posso ficar sem RG, sem nome, sem álbum de fotografias, e ainda sigo existindo.
As memórias são como folhas secas caídas no inverno, sua própria realidade se torna tão tênue quanto um só fio de seda conforme a presença se intensifica. Se pode mesmo observá-las como potencialidade e parece até bizarro que estas folhinhas se creiam reais no dia a dia.
O que sou então? O que sobra? 
Neti neti significa “não isso, não isso”. Uma das formas de realizar o que somos é descartar o que sabemos não ser. O que sobra?
A prática interna de atenção (usualmente chamada de meditação) é um processo vivo de descarte. A prática de auti-inquirição proposta por Ramana (“Quem sou eu?”) quando aplicada apropriadamente oferece o mesmo norte. 
A intensificação do estar presente leva ao descarte de tudo o que não é real, neste caso os pensamentos/emoções, trazendo consigo sua carga de memória e história e futuro e expectativas. A busca instigante por aquilo que é real a cada 15, 30, 60 minutos de prática é chave. 
Nesta intensificação do estar e se saber Presente a atenção se volta cada vez mais para si mesma, há um polo atrator, que é a própria fonte de atenção. Aquilo que é capaz de compreender, Aquilo que é Consciente, passa a observar a si mesmo. E aí principia a Realidade.
abraços
marcos

Um comentário:

Vanessa Lobato disse...

Thiele

Saudades de você...
que texto profundo...E gastamos tanta energia com o que não somos...

Beijos e dê notícias.